Querido morador de rua.

Querido morador de rua.

Morava na Vila Madalena, mas não morava em uma casa, morava na Rua Purpurina.Ele dormia em frente um salão de beleza.

Certa vez, telefonei para um abrigo para saber se ele pudesse ir para lá. A pessoa que me atendeu me disse que eu primeiro teria de saber se ele gostaria de morar lá.

Um dia estava esperando o ônibus Edu Chaves e ele também estava esperando. Aproveitei para perguntar se ele gostaria de morar num abrigo.

__O senhor gostaria de morar num abrigo?

__Não. Nesse bar, eu tomo o café da manhã. O bar ficava em frente o ponto de ônibus. Há uma senhora que lava minha roupa.

__O senhor não tem nenhum parente em São Paulo?

__Não. Todos meus parentes moram em Paraíba.

__Quantos anos o senhor tem?

__Tenho oitenta e três anos.

Este senhor todos os dias tomava o ônibus Edu Chaves e descia em qualquer ponto. Ele carregava uma sacola e uma vassourinha. Onde ele parava, ele varria a rua em frente alguma casa comercial, penso que ele ganhava alguns trocados com isso.

Quando ele entrava no ônibus, o motorista chamava-o de Paraíba. Ás vezes ele entrava no ônibus apenas para dar um passeio de ônibus. Ele era bem tratado pelos motoristas, que tinha muita paciência com ele, pois ele tinha dificuldade de entrar e descer do ônibus.

Passei algum tempo sem vê-lo na rua e perguntei sobre ele para o dono do bar, que me disse que ele tinha sido internado no Hospital das Clínicas.

Domingo passado eu estava num mercadinho que fica em frente o ponto de ônibus e perguntei por ele. Uma senhora que estava lá me disse que ele havia falecido. Ela era quem o internou nas Clinicas. E ele era a senhora que lavava a roupa dele. Ela disse que todos os domingos ele almoçava na casa dela. Ela disse que ela não deixou que ele fosse enterrado como indigente. Fui para casa pensando que em São Paulo há almas realmente caridosas e senti pela sua morte.