Texto para um dia de casamento.
Alexandre Menezes
Recordo de vê-la chorar por nossa separação diversas vezes. Ocorreu de uma forma bem mais traumática que poderíamos imaginar. Após o fim, não havia possibilidade alguma de ficarmos próximos. A moça sempre se descontrolava e, por necessidade, decidi afastar-me.
Hoje é engraçado lembrar as inúmeras sugestões de passeios dadas por ela a mim: inferno, merda, a casa de uma mãe que não era a minha e, confesso que juntos, no mesmo altar da igreja, não dava para imaginar. Ninguém apostaria, mas no mesmo altar estávamos.
Na cerimônia, velhos amigos distantes, por seus motivos, mas distantes. Na realidade os motivos foram meus. Afastei-me, mas nunca fui embora realmente. Quem é amigo leva o carinho pelo o outro no coração. Próximo ao padre, meu corpo procurava ler as expressões em todas as faces para descobrir quais sorriam por espanto ou faziam cara de surpresos, desavisados.
Algo que combina com casamento com certeza são lágrimas. Ela não parou e não desceu do altar. O padre pregando: ela chorando. A banda cantando: ela chorando. Cochichos, em certo momento, já pareciam um coro. Na hora de repetir os votos: muito mais choro. Creio que por isso o sacerdote apressou tanto.
No passado, decidi nunca mais vê-la e por isso não esperava reencontrar aqueles amigos de uma época que optei pouco nela pensar. Seus olhos denunciavam sentimentos que ainda existiam enquanto eu permanecia indiferente às suas lágrimas tristes. Todos notaram.
Pedido feito e aceito. Contrato assinado para ratificar o amor em papel passado. Festa, valsa, lua-de-mel e enfim a convivência de casados. Nas primeiras reuniões feitas para os amigos geralmente nossa história era o foco. Em pensamento, agradecia por estar ali entre eles, mas sempre lembrava que o destino também teve seu lado sacana. Só ele mesmo para nos colocar entre os casais de padrinhos de um mesmo casamento. No momento dizem que ela se trata, depois espero que suma.