Velocidade do som?! Velocidade da luz?!
Primeira reunião do ano na casa de Paulinha. Prédio antigo, elevador mais antigo ainda. Demora a subir. Arranha! Relincha! Ronca!Barulhos estranhos! Andar por andar va-ga-ro-sa-men-te. Marluska experimenta por em prática as últimas lições da ioga. Rspira! Respira! Respira!E, tenta relaxar para exorcizar a sua fobia. Como sempre foi a primeira a chegar à reunião. Toca uma, duas, três, quatro vezes a campainha. Após uma longa espera Paulinha vem atender.
“Você está aí esperando. Nossa! Desculpe não ouvi a campainha!”
Um perfume forte corre pelo apartamento. Na cozinha Marluska faz a descoberta. Duas jacas enormes emprestam o odor adocicado a todo o ambiente.
“Você gosta de jaca?”
O gato enrola aos seus pés, “Atchim! Paulinha, penso que é a única fruta que não aprecio.”
Não gosta?”
“Sabe eu tive anemia, e alguém disse para a minha mãe, que jaca cura anemia. E, Deus é testemunha da grande quantidade de jaca que comi.”
Ding, dong. Ding, dong Ding, dong.
“Entre Aurora. Que saudades. Venha até a cozinha, pois estamos preparando os quitutes. Ah! Você gosta de jaca?”
“Gosto, não!”
Final de reunião. Aurora e Marluska ficam dando uma ordem na bagunça. Nisto, Paulinha entrega um pacote grande para cada uma.
“Preparei para vocês um pedaço da jaca de cada.”
“Mamãe! Você deu a jaca do amigo do Clóvis?”
As duas mulheres se olham e empurram a jaca para o lado de Paulinha .
“Não! Não! Meninas podem levar. Minha filha, não se estresse, a jaca do seu noivo está ali. É a maior das duas”,
Nove dias se passam.
Triiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!
“Alô!”
Do outro lado uma voz dispara a falar na velocidade da luz ou melhor na velocidade do som..
“Marluska, o moço não veio pegar. Ela está aqui ainda plantada em minha cozinha. Estou com dor de cabeça de senti-la. Não sei mais o que fazer? Colocá-la fora é um pecado. Está aqui! Ela olha para mim, eu olho para ela. Então, resolvi que vou dar de presente para você. Mas, você tem que vir pegá-la até as 21 horas. Depois deste horário vou dormir esendoassimsevocênãoviervoupensarum outrodestinoparaela.”
Marlusla sem entender patavina, coça a cabeça. “Ela? Quem é ela? Fale mais devagar.”
“Ela, a jaca, Aquela enorme do noivo da minha filha. Ela é sua, agora!”
“Mas, não tenho como ir aí. Cármino ainda não chegou do trabalho.”
“Ela é sua!”
O telefone emudece.
A amiga convence o marido das vitaminas da jaca. Enfim, vão buscar, o tal presunto vegetariano. Emprestam um balde de plástico de vinte litros da vizinha para acondicionar a “frutaporco”.
Já no interior do porta malas do carro, a jaca resolve rolar e espalhar um liquido viscoso e fedorento. Cármino encara a mulher e dá um grunhido de insatisfação.
“Espero que a fruta esteja doce!”
A mulher acena a cabeça em sinal de afirmação.
O Homem coloca a fruta na pia e a espeta com uma faca afiada. Leva a semente à boca.
Os olhos saltam. A boca solta uma cusparada. A faca cai no chão.
“Que horror está azeda!”