Tempo de estar só
Caminhada... Essa palavra tem sido bem significativa para mim nos últimos dias... Discorrendo sobre esta, me vem à mente que sempre acreditava que percorrer o caminho acompanhado, tornaria o percurso mais agradável: uma boa conversa poderia nos fazer esquecer que as paisagens nem sempre são verdes; Uma outra mão poderia nos ajudar a passar pelos buracos ou atravessar os pedregulhos; Ou ainda, poderia fazer a gente se sentir mais confortável quando, porventura, a trilha se tornasse escura.
No entanto, essas reflexões também me trouxeram um questionamento: poderia, nesta trilha, um cego guiar outro?
Às vezes, constatamos, nesta jornada, que podemos nos sentir sozinhos e desorientados ainda que acompanhados. Isso acontece, quando nos percebemos meio perdidos dentro do labirinto de nossa própria alma - prisioneiros das incertezas, das amarguras, frustrações e mágoas vivenciadas durante um certo trajeto trilhado... Nessas ocasiões, notamos que nossos passos ora são firmes, ora, cambaleantes. Então sentimos uma incrível necessidade de voltar no caminho e tentar resgatar os pedaços de nós que se perderam. E, talvez, este retorno tenha que ser realizado sozinho, para não correr o risco de ficarmos entretidos com a companhia, e não consigamos mais nos alcançar novamente.
È provável que exista um percurso de nossas vidas que só nós possamos fazê-lo, e acredito que ninguém poderá fazê-lo por nós - A estrada onde iremos ter um encontro com nós mesmos. Porque, em algum momento, talvez seja necessário enxergarmos as paisagens secas e espinhentas e experimentar o valor que produzem dentro de nós; Por vezes, precisemos também tropeçar nas pedras e cair nos buracos para aprendermos a nos erguer sozinhos; Ou ainda, tenhamos que enfrentar todo o pavor da escuridão para encontrar a luz.
Não tenho dúvidas que uma companhia seja pertinente em nossas vidas. Contudo, às vezes, é necessário repensar os motivos que nos levam a querer estar sempre “acompanhados”: Por que a maioria de nós teme a solidão? Será que não é o medo de está a sós com nós mesmos e nos depararmos com nossas fraquezas ou fantasmas? Acaso, seria esta a melhor opção : fingir que não existem e ignorá-los no sótão da alma?
Diante disso, creio ser relevante para o ser humano, encontrar comunhão consigo mesmo, visto que este encontro é um elemento fundamental para se relacionar melhor com o próximo. Com isso, não estou querendo dizer que caminhar sozinho seja a melhor alternativa, todavia, para que o percurso seja interessante para ambos, é fundamental que a escolha da companhia não seja pela necessidade do outro, mas simplesmente por apreciar sua presença.