SE UM DIA EU FUI POBRE

 

Tá na cara, que nada tenho com que reclamar. Pois, se um dia eu fui pobre não me lembro, não dependo disso aqui. Acontece que meu sonho era de poder deixar de apagar as luzes da cidade, e sempre se possível deixá-las acesas. Porque miséria pouca é bobagem, e por isso eu fui adentrando aos poucos no mundo dos ricos. Deixei de empurrar minha bicicleta num areial miserável, casei com aquela que certamente era o meu mundo, e hoje vivo pra lá e pra cá de carro importado, e se for para falar de dinheiro, ela nada tem ou tinha que o piriquito por acaso roa.

. Mesmo assim casei com ela, não tive outra escolha, também poderá bonito como sempre fora. Certo dia, depois de tanto apagar as luzes das ruas junto ao meu pai, e de matar todos os dias um boi para chegar à faculdade, adentrei na politica. Mas nem sequer passei pela câmara de vereadores.

Porém, como muitos já me conheciam, como Zé da Luz, aquele rapaz franzino que certamente nem sequer tinha nada para comer todos os dias, fui com a ajuda de amigos, entrando num lugar aqui, e noutro acolá, de repente me vi como prefeito desta cidade, uma cidade cosmopolitana, de portas abertas para o mundo, igual a ela nunca vi. Pois aqui o pessoal ver tudo, e nada sobre esta que vive de cofres abertos questiona.

Portanto, segui na minha caminhada, vi que tudo dependia de mim, que já pela terceira vez fora eleito, por esse povo que enche o papo da galinha, e sendo assim de grâo em grão me acostumei com o moído doido e a moleza que é, e hoje eu digo apenas para todos que por acaso suspeitarem de mim e da minha mulher, que nada tem a ver, se hoje não dependo desta.

Não é nenhuma novidade, sempre ganho imunidade! E sendo assim por certo trato da cabeça dos outros, dando respostas que apenas sou doutor, mesmo não exercendo a verdadeira formação, e nem sei o que vem ser infração.