CARRASCO

O ônibus que percorre o bairro de botafogo esta abandonado na estação. Vou à direção da lanchonete do Japa, amigo nosso do tempo das “Diretas já”, mesmo antes, percorremos os porões da ditadura e hoje parte daqueles que nos torturavam estão a gritar palavras de ordens e seus filhos com as caras pintadas escondem a vergonha das torturas. Foi no ponto de ônibus entre a feira de Santana e a fabrica de sapatos, que encontrei meu algoz torturador, eu o reconheci pelo seu andar meio balançado jogando suas mãos bem para trás, e sua voz rouca, nunca baixou a cabeça, nem pelo peso das mortes nos calabouços do DOICOID, em frente a Praça Mauá. Vinha ele carregando pelos braços uma criança de uns doze anos, depois eu vim saber tratava-se do filho. Abordei-o sem cerimônia, quis desvencilhar mais eu fui incisivo.

_ E a Catarina? tremi.

Quis correr mais ele estava lá na minha frente, a perturbar meus sonhos, então foi que me convidou para um drinque, de pronto aceitei, não é qualquer um que pode beber com seu carrasco. Fomos ao bar mais próximo e nos sentamos à mesa, ele sempre de costa para as paredes do bar como se esperasse de algum modo o fantasma de sua vida, olhava para todos os lados a procura de algo, não sei, mas, aquilo me incomodava, não pedi para parar porque eu também não conseguia segurar meus medos, uma nova medida provisória ou um ato institucional, “eu também tenho receio de que isto ocorra”, disse para mim a certo momento de nossa conversa, não gostaria de voltar a ser carrasco, só adoraria encontrar Catarina.

_ Isto é quase impossível. Disse-lhe sussurrando.

_ Por quê? Perguntou-me apreensivo.

Mas, como poderia estar apreensivo naquele momento, e porque Freire procurava por Catarina?

_ você não acha que ela sofreu bastante. Disse-lhe em um tom áspero.

_ Eu preciso encontrá-la, por acaso eu forcei este encontro, eu sabia que você sempre freqüenta a lanchonete do Japa, então...

_ Puta que pariu você continua o mesmo porco do tempo da ditadura. Levantei-me e caminhei rápido para a porta, sua voz rouca me alcançou.

_ Qual o nome dela agora? Apenas isto... me responda.

Titubeei por um instante, olhei o horizonte que se fechava, voltei-lhe o rosto e falei que ela havia desaparecido a muitos anos, ele insistiu que eu lhe fornecesse alguma pista, sabia que daquele momento em diante não me deixaria em paz, então falei que o nome agora da companheira era Fernanda.

_ E o sobrenome qual é?

Saí dali apressado, peguei o ônibus e fui para meu apartamento, tranquei-me para a vida urbana naquela noite de agosto. Margarida me acordou cedo.

_ hora de ir para a redação do jornal. Disse-me