GRILO VERDE EM MINHA VIDA
Eu era criança e já ouvia:
— Grilo verde é sinal de sorte, de esperança. Quando vem, alguma coisa boa acontece...
Tolices, superstições, invencionices do povo? Sabe-se lá! O certo é que era bom acreditar que aquele inseto verdinho ia mesmo trazer boas novidades. Morávamos num sítio muito gostoso. Mato por todo lado, vida rural no mais alto estilo. Muito bicho também. Criança, solta, vivia de travessuras. Conhecia tudo que era inseto, sabia de todos os hábitos deles e onde encontrar cada um.
O milharal vicejava. A gente se perdia entre as folhagens verdes, elegendo as “bonecas” de cabelo mais bonito nas espigas ainda em fase de granar. Derramavam sedosos fios ruivos, brancos, louros. Fazíamos longas tranças nelas. Meu pai ficava bravo, dizia que daquele jeito o milho não “ia vingar”, coisa de agricultor, de gente sábia da terra...
Correndo no meio dos eitos, a molecada aprontava. E eu disputava os grilos verdes, para me darem muita sorte. Iam me ajudar a conquistar aquele garoto da escola por quem eu morria de amores... A esperança, misturada às folhas dos pés de milho, vinha em voos rasantes e pousava nos meus ombros, na roupa, no cabelo. Espantar? Nem pensar! Ficasse o bichinho ali, que sorte a gente não tem a toda hora...
A infância ficou longe. O sítio se modernizou, perdeu sua doçura, seu cheiro de mato. Pessoas queridas ficaram pelo caminho, as roças deram lugar a outras benfeitorias. Agora, um lugar para festas, e fins de semana... Meu pai não está mais lá faz muito tempo. Mas o curioso é que os grilos verdes não sumiram... Até hoje me perseguem com suas visitas inesperadas e sempre prazerosas...
Onde moro, no centro da cidade, existe bem pertinho uma área preservada com muita vegetação. Um pequeno oásis que posso admirar de minhas janelas. Árvores antigas, de copas altas que abrigam muitas aves, insetos, e até pequenos animais como micos e gambás e, como não poderia ser de outro jeito, muitos grilinhos verdes que estão sempre aparecendo em minha casa...
Hoje de manhã, assim que abri a janela, um deles veio voando com a velocidade que lhes é peculiar. Grudou na minha roupa, ficou lá me espiando com seus minúsculos e buliçosos olhinhos pretos e suas asinhas verdes que mais parecem camuflagem. Sorri para ele evitando qualquer movimento que pudesse assustá-lo.
— Bom dia, Sorte e Esperança! Foi o que me ocorreu dizer na hora. Boas notícias para o dia de hoje?
É claro que ele nada respondeu. Mas, onde está escrito que sorte e esperança falam? Elas apenas chegam e acontecem. Mentalmente fiz um pedido de algo que estou desejando muito! E deixei que o bichinho ficasse ali bem quietinho, preso à minha saia, até a hora que bem lhe aprouvesse. E eu sou maluca de espantar a sorte, desprezar a esperança? Ah, sou, não!
— Grilo verde é sinal de sorte, de esperança. Quando vem, alguma coisa boa acontece...
Tolices, superstições, invencionices do povo? Sabe-se lá! O certo é que era bom acreditar que aquele inseto verdinho ia mesmo trazer boas novidades. Morávamos num sítio muito gostoso. Mato por todo lado, vida rural no mais alto estilo. Muito bicho também. Criança, solta, vivia de travessuras. Conhecia tudo que era inseto, sabia de todos os hábitos deles e onde encontrar cada um.
O milharal vicejava. A gente se perdia entre as folhagens verdes, elegendo as “bonecas” de cabelo mais bonito nas espigas ainda em fase de granar. Derramavam sedosos fios ruivos, brancos, louros. Fazíamos longas tranças nelas. Meu pai ficava bravo, dizia que daquele jeito o milho não “ia vingar”, coisa de agricultor, de gente sábia da terra...
Correndo no meio dos eitos, a molecada aprontava. E eu disputava os grilos verdes, para me darem muita sorte. Iam me ajudar a conquistar aquele garoto da escola por quem eu morria de amores... A esperança, misturada às folhas dos pés de milho, vinha em voos rasantes e pousava nos meus ombros, na roupa, no cabelo. Espantar? Nem pensar! Ficasse o bichinho ali, que sorte a gente não tem a toda hora...
A infância ficou longe. O sítio se modernizou, perdeu sua doçura, seu cheiro de mato. Pessoas queridas ficaram pelo caminho, as roças deram lugar a outras benfeitorias. Agora, um lugar para festas, e fins de semana... Meu pai não está mais lá faz muito tempo. Mas o curioso é que os grilos verdes não sumiram... Até hoje me perseguem com suas visitas inesperadas e sempre prazerosas...
Onde moro, no centro da cidade, existe bem pertinho uma área preservada com muita vegetação. Um pequeno oásis que posso admirar de minhas janelas. Árvores antigas, de copas altas que abrigam muitas aves, insetos, e até pequenos animais como micos e gambás e, como não poderia ser de outro jeito, muitos grilinhos verdes que estão sempre aparecendo em minha casa...
Hoje de manhã, assim que abri a janela, um deles veio voando com a velocidade que lhes é peculiar. Grudou na minha roupa, ficou lá me espiando com seus minúsculos e buliçosos olhinhos pretos e suas asinhas verdes que mais parecem camuflagem. Sorri para ele evitando qualquer movimento que pudesse assustá-lo.
— Bom dia, Sorte e Esperança! Foi o que me ocorreu dizer na hora. Boas notícias para o dia de hoje?
É claro que ele nada respondeu. Mas, onde está escrito que sorte e esperança falam? Elas apenas chegam e acontecem. Mentalmente fiz um pedido de algo que estou desejando muito! E deixei que o bichinho ficasse ali bem quietinho, preso à minha saia, até a hora que bem lhe aprouvesse. E eu sou maluca de espantar a sorte, desprezar a esperança? Ah, sou, não!