FAROFEIROS NO SHOPPING

Os utensílios eram de plástico reciclado, cada um deles contendo as guloseimas da festa: farofa dágua, arroz branco, salgadinhos(coxinhas mais precisamente), salpicão enfumaçando de tão quente e salada de verduras com maionese light, entre outras farofadas integrantes da "fartura". Todos os convidados e familiares da homenageada carregavam alguma coisa da festança, e a gordinha do rosto em forma de lua cheia, que era a aniversariante, embraçava toda desembaraçada e sorridente um imenso bolo confeitado com glacê, no meio as velinhas revelando quantos anos já haviam transcorrido em sua vida. Adentraram a praça de alimentação do shopping sob os olhares curiosos dos presentes, colocaram a comida, as velhas e surradas conchas de alumínio, as colheres, garfos, copos descartáveis e demais tralhas(panos de prato, palito, pratos, etc) sobre duas mesas e, em seguida, juntaram cerca de seis outras mesas em fila e se abancaram, não sem antes as mulheres fazerem a imprescindível arrumação do ambiente e acomodarem duas dúzias de cadeiras para o desfrute e prazer dos participantes daquela inesperada festinha familiar e particular.

Sim, aquele pessoal simplesmente foi comemorar o aniversário da gordinha na praça de alimentação do shopping levando de casa a comida e a bebida além da parafernália necessária a momentos da espécie. Chegou, ajeitou tudo, a farofa num canto, o salpicão no outro, a salada, o arroz, copos descartáveis, garrafões de refrigerantes, tudo, o perecível devidamente coberto com panos de prato para aguardar o instante da comilança. Eu vi o ridículo daquela presepada e não quis acreditar, tão excessivamente estúpido me pareceu. Mas lá estavam eles já começando os festejos, a macacada completa tomando dos pratos, enchendo-os com farofa, arroz branco, salpicão e salada, os copos já esborrotados de coca e guaraná light a cantar parabéns em plenos pulmões para, depois, atacar a farofagem com a brutalidade grosseira dos primatas. Assim, na maior tranquilidade, como se estivesse festejando no quintal da casa da gordinha de rosto lua cheia.

As muitas mesas e cadeiras destinadas aos clientes da praça de alimentação do shopping estavam sendo usadas para a farra do aniversário da gordinha feia, bem ali aos olhos surpresos tanto de vigias, guardas, serventes e faxineiros quanto da turma que ali vai para gastar dinheiro no final de semana num almoço diferente do cotidiano. Eles lá, se empanturrando com farofa, arroz branco, salpicão. salada e refrigerantes, às gargalhadas como se contassem piadas irreverentes, a aniversariante gordinha entusiasmada de tão feliz. Diante desse inesperado espetáculo bufo, lógico, a primeira atitude dos que trabalham no shopping foi apenas surpreender-se, pois quem esperaria, em sã consciência, que um ridículo bando de atrevidos ousaria protagonizar tal absurdo? No entanto, quando a aniversariante gordinha com cara de lua cheia já se prestava a cortar o imenso bolo confeitado, dimensionando para si própria uma generosa fatia, dez seguranças do shopping respeitosamente se aproximaram da bagunça e ordenaram que os farofeiros se retirassem o mais depressa possível do ambiente e levassem consigo a farofa, o arroz branco, os copos descartáveis, os pratos, as colheres, a salada, os panos de prato, o salpicão e os refrigerantes. Fossem comemorar o aniversário da gordinha com cara de lua cheia na ponte que caiu...a praça de alimentação do shopping não era de jeito nenhum lugar de farofeiros.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 14/03/2010
Reeditado em 14/03/2010
Código do texto: T2137249
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