Censura na internet

Para minha surpresa, recebo intimação da Justiça em ação de indenização por danos morais promovida pela viúva de Sivuca. Para ela, eu maculei sua imagem através de crônicas publicadas no blog “Itabaiana Hoje”.

Primeiramente, afirmo que esse processo se constitui no marco zero da censura na internet em Itabaiana. Jamais alguém entrou com processo na Justiça para fazer calar outra pessoa em sites da net produzidos por aqui. É um direito de cada um, que será discutido nos tribunais. Por enquanto, fico animado por saber que meu universo de leitores é maior do que os seis ou sete de meia dúzia que pensei. Até a viúva de Sivuca lê nossas crônicas. Nelas, a estrela é a cidade de Itabaiana e seus artistas, e não eu ou qualquer outro de escasso valor.

No Irã e na China promovem censura à internet, mas lá a liberdade de comunicação simplesmente não existe. Aqui, está apenas ameaçada. A Internet está entre os meios de comunicação protegidos contra a censura por força constitucional, e o livre arbítrio dos usuários é que vai decidir o destino dos cliques de seus mouses. Na petição, os advogados da viúva de Sivuca pedem ao Juiz para me ordenar: não devo jamais publicar nada relacionado à imagem ou ao nome da viúva de Sivuca. Já estou atendendo ao desejo dos advogados: nesta crônica, evito escrever o nome da viúva de Sivuca. E podem ficar sossegados que sob nenhuma condição voltarei a escrever o consagrado nome da viúva de Sivuca.

Vou de antemão pedindo desculpas à senhora viúva, dizendo que não foi nossa intenção atingir sua honra e respeitabilidade. Como é possível notar, escrever mensagens em blogs é um trabalho apaixonante e perigoso. O mandonismo, próprio de áreas periféricas como a nossa, perturba ainda como nos tempos da “redentora”, quando fomos intimados a comparecer ao quartel do Exército para dar explicações ao oficial do dia sobre crônica referente a um prefeitinho com vocação para ditador. Mudaram os meios, mas os fundamentos do autoritarismo continuam intactos. São os condicionamentos históricos que nos levam a aspirar sôfrega e constantemente pelo paraíso que seria o poder de calar os outros.

Peço desculpas também ao compadre Marconi pelos transtornos causados. Nesses meses de calor sufocante, as noites tépidas de Itabaiana trarão para as ruas os fofoqueiros de costume para falar gostosamente da vida alheia, mas aí tem que se ter cuidado; nada de mencionar os nomes de determinadas figuras. Por enquanto, certas coisas só podem ocupar os espaços internos da consciência.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 13/03/2010
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