Deus
          e os terremotos




     Vez em quando, leio alguma coisa do nosso Paulo Coelho.  Embora ele não esteja entre os meus autores prediletos, nem por isso deixo de tê-lo na conta de um romancista, cronista, contista de indiscutível valor.
    Mas há inúmeros escritores disputando minha preferência, o que me faz colocá-lo, com o devido respeito, no final da fila, aguardando sua vez.  Para ser sincero, adiantaria, apenas, que o que ele escreve, a rigor, não me atrai e peço perdão se estou sendo indelicado.

     Esta manhã, abri um jornal de Salvador, e na coluna que lhe é confiada, sob o título Histórias sobre Histórias da Bíblia, Paulo escreveu o seguinte, dois pontos.
     "Depois do Dilúvio  -  No final dos 40 dias de dilúvio, Noé saiu da arca. Desceu cheio de esperança, mas o que encontrou do lado de fora foi apenas a destruição e a morte.
   Noé reclamou: `Deus Todo Poderoso, se Tu conhecias o futuro, por que criastes o homem? 
   Só para ter o prazer de castigá-lo?`  
   Um perfume triplo subiu aos céus: o incenso, o perfume das lágrimas de Noé, e o aroma das suas ações.
    Então Deus respondeu: `As preces de um homem justo sempre são ouvidas. Vou te dizer por que fiz isto: para que entendesses tua obra.
   Tu e teus descendentes estarão sempre reconstruindo um mundo que veio do nada - e desta maneira dividiremos o trabalho e as consquências. Agora somo todos responsáveis.`
    Muito bem. A cada trerremoto, um crime hediondo, cuja autoria, que Deus me releve a ousadia, atribuo à mãe Natureza, e não descobri a pólvora, faço imediatamente ao Divino esta pergunta: Deus, se Você sabe o que, no segundo imediato vai acontecer; se é verdade que não cai uma folha no chão sem que Você tenha conhecimento prévio, porque, então, Você permite que tais fenômenos aconteçam, traiçoeiros e e avassaladores?  

     Porque tanta crueldade?
   Não, Deus, nessas catástrofes os inocentes também são castigados; são também punidos!
   Muitos, acredito, na hora do desespero, até repetem a frase do Crucificado, no drama do Calvário: "Meu Deu, meu Deus, por que me abandonastes?"
   Confesso ser difícil aceitar as justificativas - mutatis mutandis - criadas pela imaginação fértil do nosso Paulo Coelho, constantes do texto acima transcrito. De súbito serão elas, como se diz por aí, "palavras que consolam".
    Deus meu! Aproveitando a Quaresma, vou continuar lendo A Cabana. De repente,  nesse belo livro, encontro respostas mais convincentes para as dúvidas que me assaltam a cada terremoto, a cada tsunami. 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 13/03/2010
Reeditado em 19/10/2020
Código do texto: T2136442
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