SONHO DE MULHER

O tempo foi passando e o encantamento da adolescência também. Começa uma nova fase. Aos vinte anos, realizei o sonho de casar e ter filhos. É bem verdade que imatura ainda, mas só vamos amadurecendo através das experiências vividas, no decorrer da existência.

Estudando ainda em Catolé do Rocha, encontro uma pessoa, que no dizer de muitos, chamam de “sua cara metade”. Naquela época talvez pensasse assim, mas hoje, compreendo que cada ser humano é único, com sua individualidade. Pelo o que sabemos não há nenhuma identidade igual a outra, não é mesmo? Então vejo como um reencontro de duas almas afins que desejaram ficar juntos pelo amor que os uniam, mas principalmente para aprender um com o outro durante a trajetória.

Bem, começamos os primeiros ensaios do namoro, em festas, pois gostávamos muito de dançar e olha que ainda dançamos bem! Risos. Em seguida seu irmão Bolivar, de uma inteligência extraordinária, criou juntamente com um amigo, um grupo de teatro. Fomos fazer parte de uma de suas peças, Veja o título: Chico Serrotão, Canto de Vida, Amor e Morte, que por sinal não foi apresentada, por conta do regime militar. Começamos a namorar nos ensaios, entre uma cena e outra.

Namoramos apenas um ano e um mês. Creio que já estava tudo nos planos das nossas reencarnações, pois a lei divina é imutável. Aproveitamos bem esse período curto do namoro, pois era uma forma de nos conhecermos melhor. Víamos-nos todos os dias. Ah, o cinema também foi motivo dos nossos encontros. Nesta época foi inaugurado um novo cinema na cidade: O “Cine São Francisco”, que exibia bons filmes.

E assim foi continuando a nossa vida. Lembro que quando estava fazendo dois meses de namoro, precisei ir para a minha cidade, que fica a uns 24 km de distância, era o período de férias. Ficamos tristes porque íamos nos separar por alguns dias. Na noite anterior a minha viagem, fomos a uma festa e ao ouvirmos a música “La Barca”, ele ficou cantando em meu ouvido. Ela tornou-se um ícone do nosso relacionamento. Era apenas um mês de férias, mas ele não suportou a saudade e foi me ver.

Foi uma época boa a da nossa juventude. A cidade era tranquila, sem a violência de hoje. A gente podia ir e vir pelas ruas, qualquer hora do dia e da noite e nada nos acontecia.

Os dias foram se passando, até que chegou o dia cinco de junho de mil novecentos e sessenta e nove, para realizar o nosso sonho – casar. Vida nova. Dois jovens sem experiências e maturidade. No inicio não foi nada fácil, devido a nossa situação financeira não ser boa, mas com perseverança, esforço e dedicação conseguimos nos estabilizar. Da nossa união nasceram quatro filhos: uma mulher e três homens. Hoje todos adultos e cada um, seguindo a sua trajetória, dos quais nós nos orgulhamos muito.

Hoje, através das experiências vividas, entre erros e acertos, vamos caminhando, procurando viver de forma saudável, mas sempre buscando e enfrentando desafios para alcançar o crescimento interior. O aprendizado é contínuo e aqui estamos querendo, através do exercício do doar-se, aprender a amar sem fronteiras.

Neneca Barbosa

João Pessoa, 29/09/2006