QUANDO LIBERDADE É DEMAIS
 
 
            É um ponto difícil, pulsa dentro muita coisa a querer gritar, mas não tem som.
            Um grito sem som, o que é? É uma força sem motor? Que lhe falta?
            Mas certo é uma indagação.
            O telefone toca baixinho. Atendo. É Conceição da Catran. É um som humano, real. Isto é bom.
            Retorno. Escrever sempre me faz muito bem. Escrevamos, pois. O corpo não fala. Mas a alma quer dizer. Quer comunicar: meu Deus! Alma, o que você quer dizer querida? Eu sei que toda vez que você quer se pronunciar é por que tem coisa certa a dizer; e está sem gás, por quê? Desculpe minha Amiga se não lhe tenho dado ouvidos, talvez. Mas percebo que tenho os olhos vagos, perdidos, sem se deterem em coisa objetiva e atual. Eles olham e não vêem, nada deslumbram pela frente.
            Do meu livro já retirei textos que são desabafos, alertas do Editor Delmo, e com razão, como SOGRA, como CARTAS NA MESA, e outros. E daí? O título já mudou de O TAXI AMARELO p/ A CASA COLORIDA. A capa já sofreu as alterações pertinentes. Mas a Alma não tá nem ai para essas coisas.
             Acho até que compreendo, tá faltando emoções boas e novas, é isso? Algo estranho está ocorrendo, percebo.
            Nem sei se é da alma, só a percebo calada demais, e pouco estimulante.
            É coisa de fora de mim que se manifesta de errado. Mas se não me concerne, eu não deveria ficar cismando. Para a declaração de IR tem prazo, não precisa ser agora.

            Liberdade demais também pode levar a esses extremos: não me obrigo a nada. Só o essencial faço. Ontem jantei cedo, de propósito para o jejum de doze horas e exame de sangue hoje às sete. E consegui, fui e fiz. Ok estou protelando é procurar a Estação das Letras que me foi recomendada.
             Calor, preguiça, receio, ou desinteresse? 

            O peito aperta querendo falar...