Meus dias de Baby Sitter (Continuação)
Segundo Dia: 24/02/2010.
O dia amanheceu infernalmente quente. Eu e as meninas acordamos por volta das nove horas, mamãe e Glória já estavam a todo vapor. Creio que com a atual crise no mercado para magistério, posso iniciar um novo nicho, já que uma baby-sitter normal não faz o que eu faço. Seria necessário pensar um outro nome, já que baby-sitter não corresponde ao número de ações que sou capaz de realizar. A seguir listarei a sequência de ações que imagino uma baby-sitter normal não seria capaz de realizá-las:
 - Fui comprar pão com o Cross Fox da patroa e o deixei para lavar no posto, o rapaz do posto me deixou em casa e levou o carro para uma geral (infelizmente o pão voltou no carro para o posto!)
 - Passei a manhã toda retirando malwares e spywares do computador, mensagens como “seu Windows não é original”, e outros, a máquina ficou limpíssima.
 - Fui limpar a piscina, já que a Ana não foi a escola, então as duas (Ana e Luiza) poderiam se divertir na água, o melhor lugar para estar nesta temperatura.
 - Fui ao banco pagar a mensalidade da escola da Aninha, na ida, deixei o gol do patrão para lavar e peguei o Cross Fox da patroa, paguei a fatura, passei na farmácia para compra uma seringa de vacina para posteriormente aplicar na mãe da patroa. Retornei ao posto para buscar o gol do patrão.
 - Ao chegar em casa, entrei na internet para fazer alguns exercícios da disciplina on-line do curso de graduação do patrão, fiz as aulas 1 e 2 e confirmei presença.
 - Levei a Ana no Balé que durou das 19h às 20h, aguardei o término enquanto lia o texto de Michel Foucault (“Nietzsche, Freud, Marx” – Ditos e Escritos – 1967) e, conversava amistosamente com as mães das outras meninas.
 - Após o Balé fomos ao Mac-Donald, as meninas compraram um Mac lanche feliz e eu um magnífico.
Acho que não é fácil encontrar um Baby-sitter com tais atribuições.
Logo após o lanche, a Ana apresentou seu primeiro sinal do dia de saudades e este Baby-sitter, pela primeira vez se comoveu. No carro, no caminho de volta, podia ouvi-la chorar, eu fazia que não estava dando atenção, tentando distraí-la. Ela se aproximou por trás do meu banco, ao olhar à esquerda, em direção ao sinto de segurança, percebi sua mãozinha próximo ao meu ombro, coloquei minha mão direita sobre a dela, dirigia somente com uma mão. Ela apertou minha mão com força, sem pronunciar uma palavra, apenas chorava baixo.
Ao chegarmos em casa, conversei com ela no carro, perguntei o que eu poderia fazer para ajudá-la, ela não sabia dizer. Então eu a coloquei no meu colo e a abracei, não me lembrava mais do poder terapêutico do abraço, aos poucos ela foi parando de chorar, ela me abraçava fortemente, aos poucos foi relaxando, ficamos ali por uns dez minutos. Entramos, ela foi tomar banho e dormiu como um anjo.
Os pais se culpam pela falta de tempo com os filhos, as mães trabalhadoras, geralmente são acusadas de buscar sucesso profissional em detrimento da maternidade. Para este humilde baby-sytter, tais críticas são fruto da hipocrisia social, visto que nossa sociedade nos impulsiona ao topo do mundo. As mulheres se queixam por terem que trabalhar tanto, mas as que se dedicam ao lar exclusivamente são olhadas como preguiçosas ou incapazes e sentem-se de um modo geral, assim como as que estão no mercado de trabalho, frustradas.
Não há formula mágica para educar filhos, os pais de hoje se culpam por ficar tempo demais longe dos filhos, mas as famílias do início do século passado, embora vivessem mais tempo juntas, não tinham a consciência da qualidade do tempo. Casava-se por acordos, não por amor, os filhos, isto é, a prole, era educada entre as famílias burguesas pelas amas de leite e empregados. Hoje sabemos que o que faz com que as crianças sejam emocionalmente saudáveis é a disponibilidade do afeto e afeto não falta a estas meninas.