O HOMEM SEM CELULAR
Desconfio que sou uma pedra no caminho da estatística sobre telefonia móvel no Brasil. Os jornais anunciam com festa que o dia das mães impulsionou as vendas de celulares no mês de maio. O ótimo desempenho nas vendas, além de deixar as mamães e os vendedores mais felizes, fez o país contabilizar agora 105,09 milhões de telefones móveis.
Confesso que continuo primitivo, resolvendo talvez por birra, não aderir ao uso do celular. Já faço parte de uma exilada minoria. Talvez o erro esteja na pouca criatividade dos comerciais de telefones celulares na televisão. Talvez o erro esteja na minha necessidade de não ouvir vozes me incomodando nos meus momentos de homem à paisana. Acredito que sou um inimigo da telefonia, um contraventor social e tecnológico. Antes que os desavisados arrisquem um palpite, adianto que a minha heróica resistência nada tem a ver com romantismo. Tem a ver com aversão a algo. Talvez eu me torne no único cidadão brasileiro a não ter celular no ano 2011, por exemplo. Possivelmente me tornarei alvo solitário das campanhas publicitárias da Vivo, da Tim ou de coisa que os valha. Cientistas poderão estudar meu comportamento, catalogando-me como um elo entre o homem primitivo e o pós-homem. Estarei pronto para ser esmiuçado, para ser estudado e explorado pela mídia.
De todas as pessoas que conheço sou a única a não ter celular. Vai ver eu sou um homem do passado, que foi lançado por acidente no admirável mundo novo. Vai ver eu sou um chato que não quer ser incomodado no seu refúgio secreto do ócio.
* Vencido, este cronista já aderiu ao uso do celular.