Aquele pedaço!

Dirigia-me para o trabalho, andando costumeiramente por aquela rua e, ao dobrar a esquina, dei de cara com aquele pedaço perto do banco ao lado da banca do jornaleiro. As mulheres que passavam, não o percebiam, ou fingiam não perceber. Já os homens, uns dirigiam-lhe olhares desinteressados, mas outros não escondiam a cobiça no brilho do olhar. Tinham razão, pois eu também fiquei de olho naquela beleza, principalmente na curva perfeita e no joelho torneado, ambos, como uma luva, completando o todo. Estaria ali deixado por alguém? Aproximei-me para observar melhor e ali permaneci à espera da desocupação do banco, para nele sentar-me e ficar ao alcance daquela beleza. Finalmente sentado, fiquei por algum tempo em expectativa, mas ninguém se aproximou. Conjeturei: será que não tem dono? ou é por demora de alguém atarefado na lida cotidiana? Por um ou outro motivo achava-se ali despertando a cobiça dos passantes marmanjos como eu. Não me segurei: aquilo calhava lá em casa, não só pelas proporções, como pela harmonia do joelho e da curva; por isso o apanhei e o coloquei na sacola, para, chegando em casa, troca-lo pelo do meu chuveiro que, além de curto, acha-se enferrujado e vazando água. De posse, então, do pedaço de tubo de ferro galvanizado com a curva e o joelho novinhos em folha, que alguém deixara, por esquecimento ou de propósito, perto daquele banco, espero melhorar o meu chuveiro, que há muito tempo está precisando. Salvo o pagamento da mão de obra ao bombeiro, estou livre da despesa com a compra do material. Sorte a minha!

Deocastro
Enviado por Deocastro em 12/03/2010
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