Os tempos mudaram?
Não, quando você tem uma avó! Não acho exagero dizer que ela é semelhante àquelas máquinas do tempo dos filmes de ficção... Talvez uma maquineta meio quebradinha, que não voa para o futuro, emperrada no passado.
Com toda a autoridade que seus 90 anos de idade lhe conferem, vovó diz “No meu tempo não era assim”, “Não se faz mais casamentos como antigamente...”, ”Como os tempos mudaram!", etc.
Bem, eu completaria com um sonoro Graças a Deus se tivesse certeza que ela não entenderia.
Aos 63 anos de casamento, vovô já com 86, mantinha a mesma amante de toda uma vida, talvez o amor da vida dele.
As máximas dele eram outras... “Casamentos são como submarinos, foram feitos para afundar, às vezes flutuam”, "Burro amarrado também pasta", “O bom mesmo é namorar!” dizia ele rindo, sem nunca admitir ou negar nada. Sem dúvida, era mais realista e contemporâneo. E sorria muito mais que vovó...
Não tenho nada contra casamentos, adoro meu marido, especialmente depois que o submarino afundou e ele mudou as cuecas pra outra gaveta. Isso é motivo para que vovó repita frequentemente “morro e não vejo tudo, esse mundo está perdido! Pouca vergonha!”
Muita vergonha, eu diria... Nunca entenderá que depois de um tempo tornamo-nos amigos, orgulha-se de ter mantido o “touro à unha” até o fim... Ou melhor, manteve o submarino até o fim, mas não exatamente pelo periscópio.
Eu replico em pensamento, com todo o respeito possível: pare! Perdida está você, avozinha. Valeu a guerra, a luta, o esforço? Valeu o submarino? Se o negócio é flutuar, vamos de veleiro...
O mundo mudou, nós mudamos e os relacionamentos também.
Mudamos mesmo? Mudamos. Não sei o quanto, mas mudamos. Vejam os homens, eles não querem compromisso, não querem casar, já não precisam de uma chata para cozinhar, lavar, passar... Nem pra sustentar e ostentar. Muito bem! Aplausos! Até vovó entende!
Entende? Claro que sim! Ora, ora... Justamente agora que vovô já mora no céu? Sim senhora, lamentável e oportuna falta de sincronia... Quem diria?
Bem... E se é você que não quer brincar mais de casinha? Daí a porca torce o rabo! E as avós também! Perdão, respeitosamente: elas torcem o nariz! E você? Você não merece nem crédito. No mínimo não acreditam em você, dissimulada! Ou então...
Você é da “coisa”, libertina, safada, desnaturada!
E vovó aproveita: "mulher foi feita pra casar! Antigamente as mulheres eram mais dignas! Toma juízo, menina, que pouca vergonha!"
Como explicar que é justamente porque tenho juízo? Como explicar que é crueldade e pouca inteligência aprisionar o outro, que os grilhões invisíveis deixam marcas profundas e dolorosas? Como explicar que não tenho tempo nem vocação para artimanhas e batalhas inúteis? Como explicar que me recuso a ser dignamente infeliz até que a morte nos separe? Eu a amo, nem tento explicar...
Doce e querida avozinha, aparentemente frágil, uma máquina do tempo... Do seu tempo, o tempo que lhe convém.
Ai, meu Deus, dê-me paciência, muito amor, tolerância, empatia, generosidade... E sabedoria também! Quero ser uma máquina do tempo emperrada no futuro e navegar alegremente com os netos que eu vier a ter.
* Imagem Google
Não, quando você tem uma avó! Não acho exagero dizer que ela é semelhante àquelas máquinas do tempo dos filmes de ficção... Talvez uma maquineta meio quebradinha, que não voa para o futuro, emperrada no passado.
Com toda a autoridade que seus 90 anos de idade lhe conferem, vovó diz “No meu tempo não era assim”, “Não se faz mais casamentos como antigamente...”, ”Como os tempos mudaram!", etc.
Bem, eu completaria com um sonoro Graças a Deus se tivesse certeza que ela não entenderia.
Aos 63 anos de casamento, vovô já com 86, mantinha a mesma amante de toda uma vida, talvez o amor da vida dele.
As máximas dele eram outras... “Casamentos são como submarinos, foram feitos para afundar, às vezes flutuam”, "Burro amarrado também pasta", “O bom mesmo é namorar!” dizia ele rindo, sem nunca admitir ou negar nada. Sem dúvida, era mais realista e contemporâneo. E sorria muito mais que vovó...
Não tenho nada contra casamentos, adoro meu marido, especialmente depois que o submarino afundou e ele mudou as cuecas pra outra gaveta. Isso é motivo para que vovó repita frequentemente “morro e não vejo tudo, esse mundo está perdido! Pouca vergonha!”
Muita vergonha, eu diria... Nunca entenderá que depois de um tempo tornamo-nos amigos, orgulha-se de ter mantido o “touro à unha” até o fim... Ou melhor, manteve o submarino até o fim, mas não exatamente pelo periscópio.
Eu replico em pensamento, com todo o respeito possível: pare! Perdida está você, avozinha. Valeu a guerra, a luta, o esforço? Valeu o submarino? Se o negócio é flutuar, vamos de veleiro...
O mundo mudou, nós mudamos e os relacionamentos também.
Mudamos mesmo? Mudamos. Não sei o quanto, mas mudamos. Vejam os homens, eles não querem compromisso, não querem casar, já não precisam de uma chata para cozinhar, lavar, passar... Nem pra sustentar e ostentar. Muito bem! Aplausos! Até vovó entende!
Entende? Claro que sim! Ora, ora... Justamente agora que vovô já mora no céu? Sim senhora, lamentável e oportuna falta de sincronia... Quem diria?
Bem... E se é você que não quer brincar mais de casinha? Daí a porca torce o rabo! E as avós também! Perdão, respeitosamente: elas torcem o nariz! E você? Você não merece nem crédito. No mínimo não acreditam em você, dissimulada! Ou então...
Você é da “coisa”, libertina, safada, desnaturada!
E vovó aproveita: "mulher foi feita pra casar! Antigamente as mulheres eram mais dignas! Toma juízo, menina, que pouca vergonha!"
Como explicar que é justamente porque tenho juízo? Como explicar que é crueldade e pouca inteligência aprisionar o outro, que os grilhões invisíveis deixam marcas profundas e dolorosas? Como explicar que não tenho tempo nem vocação para artimanhas e batalhas inúteis? Como explicar que me recuso a ser dignamente infeliz até que a morte nos separe? Eu a amo, nem tento explicar...
Doce e querida avozinha, aparentemente frágil, uma máquina do tempo... Do seu tempo, o tempo que lhe convém.
Ai, meu Deus, dê-me paciência, muito amor, tolerância, empatia, generosidade... E sabedoria também! Quero ser uma máquina do tempo emperrada no futuro e navegar alegremente com os netos que eu vier a ter.
* Imagem Google