Parteiro!
Primeiras horas do dia 27/01/2010.
Estou eu sentado confortavelmente no sofá da minha sala assistindo a mais um capítulo da primeira temporada da excelente telesérie Poirot quando minha gata, Agatha (chará da criadora do personagem Hercule Poirot, cuja série eu assistia e que tem esse nome justamente em homenagem a Agatha Christie, por uma vez ter desaparecido para depois ser encontrada dormindo sobre minha coleção de livros da autora), começa a chegar perto demais de mim.
A Agatha é assim: eu estou no meu quarto lendo um livro ou mexendo na Internet, ela tá lá comigo. Eu tô na sala vendo um filme, lá está ela me fazendo companhia, mas sempre meio de longe, deitada no braço oposto do sofá por exemplo. Não, ela não gosta de colo, e foi isso que me levou a estranhar o fato de ela começar a chegar muito perto de mim.
A propósito, a Agatha é muda, ela não mia, solta um ruído semelhante a um assopro distorcido com a língua colada no céu da boca. E foi esse som que ela começou a emitir repetidas vezes até eu entender o recado. Havia chegado a hora do parto. Sim, minha gatinha estava prenha!
Sua primeira e até então última cria foi no dia 28/09/2009 e agora, fantando um dia para quatro meses de aniversário daquela data, vinha a segunda ninhada.
Ok, antes da Agatha eu já tive vários outros gato(a)s.
Uma delas, a Thila, teve mais de 200 filhotes ao londo de sua vida, e teria tido mais se não a tívéssemos mandado castrar.
Eu sabia que bastava arranjar um "ninho" pra Agatha e estava tudo bem. Fui até o meu quarto, desocupei uma caixa, forrei com um lençol velho dobrado e coloquei sobre o sofá. A gatinha entrou lá e começou a ter contrações. Achei que a caixa estava um tanto pequena (quem já teve a oportunidade de assistir a um parto felino sabe que a gata fica dando várias voltas ao redor de si mesma e não para de se mover) e tratei de achar uma maior. Troquei a Agatha de acomodações e achei que era só ficar ali por perto esperando que a natureza seguisse seu rumo.
Ledo engano...
O primeiro gatinho veio depois de muito esforço e sangue. Tudo ok.
Aí veio o segundo.
Eles nascem envolvidos por uma membrana transparente que a gata ingere junto com o cordão umbilical e outras nojeiras que saem junto com o filhote. Não sei se foi por inexperiência por parte da mãe, preocupação com a próxima cria ou dor mesmo, mas a Agatha simplesmente não limpou o gatinho como devia e ele começou a se contorcer dentro daquele troço. A impressão que eu tive era que ele estava desesperado tentando repirar, e aquilo foi indo assim por vários minutos, até que ela começou a por o terceiro pra fora. Aí eu tive que agir. Se com o tempo que ela teve antes não foi possível tirar o gatinho de dentro daquele "saquinho", imagina agora com um filhotinho metade pra fora, metade pra dentro? Não tive dúvidas: peguei uma tesoura de confiança e com muito cuidado cleck, cortei a membrana e o gatinho começou a respirar direito, não sem antes por um tanto de líquido boca e nariz afora.
O terceiro nasceu sem transtorno algum. Ela ainda o estava lambendo quando ele começou a miar procurar as tetas da mãe. O segundo já fazia a mesma coisa depois de um tempinho. Foi quando eu me dei conta que esses dois eram espertinhos demais em comparação ao primeiro que tinha nascido. Foi com esse parâmetro que percebi que ele respirava com dificuldade e não se movia como os outros. Peguei ele não mão, estava bem mais frio que os irmãozinhos...
Enquanto eu me preocupava com o primeiro gatinho nascido, colocando-o mais perto da mãe e dos irmãos para tentar esquentar ele um pouco, veio o quarto. Aliás, veio metade do quarto, e ao contrário. O bichinho, ao invés de começar a sair pela cabeça, veio ao mundo pelos pezinhos e ali ficou entalado. Não lembro de ter aprendido o que fazer numa situação dessas durante meus seis meses de aluno em uma faculdade de Medicina Veterinária, mas não precisava ser nenhum nenhum gênio para saber que naquela situação criatura nenhuma iria para frente. Peguei-o pelas perninhas (e o medo de arrancar elas fora?) e puxei. Felizmente deu tudo certo.
Ou quase tudo, o primeiro gatinho morreu...
Veio o quinto gatinho.
Os anteriores eram todos pretinhos, agora era a vez de um amarelinho.
Nasceu bem, estava espertinho, miava e tentava ir mamar. Tentava porque a gata não deu conta, ou esqueceu, ou achou que não precisava cortar o cordão umbilical e ainda estava "plugada" ao filhote. Bom, a tesoura já estava ali do lado mesmo...
Se demorou para chegar até aqui neste texto, imagine a novela ao vivo. Foram horas e mais horas nessa situação, eu e a Agatha (e depois, um a um os filhotes) até que o dia raiou.
Meus pais despertaram e eu incubi minha mãe a prestar assistência à parturiente e suas crias.
Estou exausto, quero dormir!
Algo me diz que vem pelo menos mais um gatinho.
Ou talvez não, mas a hora que eu acordar descubro...