A Beleza que se põe na mesa
Dia desses, estava assistindo ao programa “Dr. Hollywood”, da Rede TV. Pra quem não sabe, é um desses programas de cirurgia plástica. O que mais me impressionou não foi o estica e puxa, e o trabalho incansável do bisturi, mas sim os relatos dos pacientes. Havia uma moça de 22 anos, inconformada com os seios pequenos (mas que não eram nem um pouco feios, e acho que combinavam melhor com ela, que era muito magricela). Ela foi ao consultório do Dr. Ray, que mostrou um catálogo com lindas fotos... de atrizes pornôs. Aí ele falou sobre o negócio da “hipervalorização” de seios grandes na indústria pornográfica americana, coisa e tal. A moça falou como se sentia mal em ver todas aquelas mulheres lindas e peitudas, mas não poder comprar um simples sutiã. Ao seu ver, se tivesse os peitos grandes, com certeza seria uma pessoa mais extrovertida e feliz em sua vida social.
O que entendi do caso dessa garota – muito bonita e bem sucedida por sinal – é que uma pessoa mais atraente tem mais desenvoltura, é mais extrovertida e se dá melhor entre as pessoas. Não sou psicóloga, mas o que vejo aqui, não é questão de ser bonito ou não, ter peitos grandes ou não, e sim ter autoconfiança. Acreditar em si mesmo, se valorizar. Uma coisa é ela querer aumentar os seios porque não gosta do seu tamanho, outra, acreditar que sua personalidade será melhor se eles forem maiores. Amanhã, ela pode achar outro “defeito”, e assim continuar num círculo vicioso, em busca da perfeição e da aceitação.
Então as pessoas dizem: “Ah, mas não tem coisa pior do que você está insatisfeito com uma parte do seu corpo...”. Tá, uma coisa é você estar insatisfeito com algo no seu corpo e outra, atribuir todas as suas mazelas a esta “imperfeição”. A pessoa que pensa assim, ela até pode ir lá, pôr uns peitões de 500ml cada um e daqui um tempo, vai dizer que é infeliz por causa dos lábios finos, do cabelo cacheado, do pé feioso, ou outra coisa qualquer...
Outra paciente, de 21 anos, atriz pornô, foi lá pra ajeitar as próteses mal feitas que havia colocado. Contou sua rotina como dançarina de boate e atriz e disse que era uma mulher de negócios nessa indústria. Disse que precisava endireitar os peitos porque havia perdido muitas oportunidades em filmes pornográficos, e estava desesperada. E aí entra de novo a história da hipervalorização das mulheres turbinadas. Aí o médico não a operou porque ela era fumante e oferecia riscos. Ela ficou furiosa, dizendo que havia perdido 20 mil dólares naquelas três semanas em que ficou de licença pra cirurgia que nunca aconteceu. Falou que o doutor tinha que operá-la e depois que estivesse linda e maravilhosa, fazendo mais um filminho, aí sim ela cuidaria da saúde, mas sua prioridade eram as próteses de silicone. Ela ainda falou sobre sua carreira e de como havia trabalhado “duro” pra chegar aonde chegou... é, podes crer!
Também mostrou uma linda senhora de 65 anos, muito bem pra idade. Ela era designer de interiores ou coisa do tipo, e queria fazer uma plástica facial pra rejuvenescer e assim se sentir mais confortável no mercado competitivo no qual vivia, já que havia muitos profissionais jovens, e assim, ela precisava estar em sua melhor forma possível pra competir com eles.
Achei bem curiosas essas afirmações. É impressionante essa crença cega de que a aparência é tudo, que você será mais inteligente, competitivo ou seguro se tiver peitos bonitos, uma barriga lisinha e um rosto esticadinho. Tá, os médicos falam na questão da auto-estima, mas do que adianta um corpo nota 10 se a mente da pessoa está em caquinhos? A pessoa pode ser linda e maravilhosa, mas se elas não estão bem com suas mentes, sempre vão encontrar algum defeito físico pra apontar e dizer: “Não tenho amigos porque meus seios são muito pequenos” ou coisas mais cabeludas.
Dia desses eu li um livro e tinha uma parte falando sobre isso, que devemos nos amar. A autora em questão estava infeliz com os seios pequenos e queria aumentá-los, mas o namorado a fez ver a beleza que existia nela e naquilo que ela não gostava em seu corpo. Falou sobre uma amiga que não era nem um pouco bonita, na questão estética, mas que tinha uma aura de sedução incrível. As outras mulheres não conseguiam entender o porquê daquilo, dos homens preferirem uma coisinha tão “sem sal” do que elas, que eram lindas e poderosas. Daí a autora, conversando com essa amiga, descobriu o porquê: a garota “sem sal” conseguia o que queria pelo simples fato de se amar e se aceitar do jeito que era.
Quando tinha uns 10 anos, assisti ao filme Gia – Fama e Destruição, com a Angelina Jolie. O filme contava a historia da modelo Gia (esqueci o sobrenome), desde sua ascensão a sua morte trágica devido a AIDS, em decorrência do uso abusivo de drogas. Numa cena, Gia – recém-saída de uma clínica de reabilitação, pálida, de cabelos curtos e sem nenhum Glamour – está numa lavanderia de periferia e surge uma moça negra e pobre que mostra uma Cosmopolitan com Gia na capa, em sua melhor forma, e a critica, dizendo que ela foi uma tola, que muitas garotas dariam tudo pra ter o que ela teve, muitas queriam sua beleza e talento, mas não tiveram a mesma sorte. E aí a criticava por ela não dar a valor a sorte que tinha, e bla bla bla. Enfim, essa cena ilustrava bem o pensamento comum: a pessoa é linda, rica e famosa, então ela tem a OBRIGAÇÃO de ser feliz. Por isso muitas pessoas se chocam quando vêem pessoas como Fábio Assunção, Heath Ledger ou Brittany Murphy, caírem na desgraça.
Enfim, o mundo está de pernas pro ar. A TV só passa porcaria, os valores se perderam e as pessoas crescem educadas a ter esses pensamentos mesquinhos. Como disse um cara num programa de TV, em outras épocas, o sonho das meninas quando crescessem era ser professora, médica, veterinária... Hoje, o maior sonho é ser modelo, dançarina, enfim, qualquer coisa que valorize mais a beleza que o conteúdo (sem querer ofender a ninguém...). Li uma vez na Folha de SP uma matéria, de modelos mirins. Eram as crianças que queriam isso? Bom, creio que um bebê não tem muita escolha... na matéria, uma mulher que trabalhava numa dessas agências dizia que via mães darem tapas e beliscões nos filhos pequenos que não queriam colaborar nas sessões de foto. E por aí vai.
Com certeza, se for falar sobre isso com certas pessoas, ainda mais se elas forem verdadeiras beldades ou um sujeito estilo Christian Pior, do Pânico, vão me julgar uma despeitada que está morrrrreeeeeeeeeendo de inveja e que bem que queria estar no lugar delas... Mas como diria uma antiga amiga minha: “Sou mais eu!”.