O ENCANTO DE SER ÚNICO...

(Homenagem ao aniversário do meu filho - ele faz 11 anos)

Sou o ser único; um símbolo de alegria e de crescimento, que aos poucos vai se tornando cada vez mais único, com as particularidades que encerro dentro de mim, com os meus pensamentos altruístas e otimistas que me levam a buscar a felicidade em todos os cantos que visito.

Sou a arte em pessoa, ao desvendar meu corpo, fazendo silhuetas diferentes, como aquela em que murcho a barriga e depois a encho de ar num movimento constante, mostrando meus contorcionismos e exibindo minha destreza em manobrar meu corpo. Mas, também faço as artes de menino e aí já não sou apenas eu, pois procuro as parcerias e nos amigos encontro a alegria de partilhar as diversas brincadeiras, aquelas de correria desenfreada, ou aquelas rasteiras que desequilibram e fazem o corpo alheio desabar. Afinal: são só brincadeiras; mas que expressam minha alegria de não ser apenas eu, que se estende na minha procura pelos amigos de fé, onde busco encontrar minhas alegrias, jogando videogame, interagindo na internet, ou mesmo praticando uma atividade esportiva, vou enfrentando todos os desafios e mostrando a todos que gosto de vencer, mas que também sei perder. Aliás, perder faz parte do jogo. É certo que ganhar é muito melhor, mas, perder, às vezes, faz-me enxergar o sorriso do amigo, pois ele também possui os mesmo desejos e não posso frustrá-lo.

Hoje é meu aniversário e a primeira coisa que vem na cabeça é ver se meus pais estão atentos para esse dia tão importante. É certo que meu pai não lembrou da data logo que acordou, mas não faltou alguém para lhe fazer advertência. Aí ele voltou ligeiro quis me abraçar e fingir que lembrou. Aí eu mostrei que sou humano e não correspondi no mesmo instante à gentileza do seu abraço. Mas, também estou descobrindo que aprender a perdoar é atributo necessário ao meu aprendizado. Foi assim que sai da minha redoma e correspondi ao abraço sincero que meu pai me dedicou. Vi que ele já um tanto quanto velho - com meio século de existência - já não tem um sentido tão exato nas coisas do afeto.

Vi a meu lado duas outras criaturas que me amam e que me rodeavam nos primeiros segundos do meu despertar. Era minha mãe e minha irmã que queriam expressar todo o carinho que sentem por mim. Quase me acordaram a soque tão. Fizeram-me despertar na marra. Mas logo entendi que elas queriam ver sair de meu rosto um sorriso expressando minha satisfação de desfrutar do dia do ano que me faz o mais feliz dos seres humanos. Foi nesse clima entre o despertar e a euforia dessas duas pessoas tão lindas, que passei a partilhar as minhas primeiras horas que me arremessam para adolescência, pois há alguns dias atrás vi sair da minha pele, aquela espinha que simbolizava os primeiros passos da minha puberdade. Recebi esse sinal de vida, com certa estranheza, mas fiz do momento um grande elo de comunicação, pois exibia a todos aquela espinhazinha, como se fosse o meu talismã.

Mas era só o começo de um dia quase interminável. Há pouco minutos estaria eu frente aos meus amigos de escola. Como seria? Será que eles iam se lembrar...Não adiantava ficar fazendo perguntas sem respostas. O importante era enfrentar a galera e dançar pra eles aqueles paços do rebolation que se tornou meu sinal de alegria, imitando os passos da minha maninha que me ensinou muito bem a forma e o equilíbrio para desenvolver a dança. Evidente que meu pai vai ficar inventando coisas sobre isso, porque eu sou único e como tal só eu posso estar na sala de aula e vivenciar toda essa minha expectativa. Mas ele é criativo e não terá dificuldade de imaginar como as coisas serão. O primeiro colega que lembrou, nem me cumprimentou, mas já foi logo asseverando: - Onde será a festa? Eu, com voz de gente esperta, fui logo advertindo: - Quem não me cumprimentar não será convidado...Assim, todos fizeram fila e se aprochegaram para me dar um abraço, inclusive a professora. Olhei para ela e disse incontinenti: - A festa será só para a garotada, nem adianta ficar interessada !!! Aí, ela toda paciente, olhou-me nos olhos e disse: - Não Luquinha, ou só quero mesmo é lhe dar um abraço carinhoso.

Há...como é bom ser criança! O meu pai é que fica brincando de ser eu para retornar a um tempo que para ele não volta mais. Mas eu acho bom que ele faça isso, porque assim ele começa a lembrar que sou sua imagem e sua sombra e não vai ficar me recriminando pelas minhas peraltices. Em todo caso, quero dizer a todos que sou um menino feliz, que mesmo sendo criança já tenho responsabilidade com meu estudo. Sei que tudo que meus pais fazem por mim são para alavancar o meu futuro. Por isso, mesmo brincando, mesmo fazendo minhas brincadeiras de menino, vou crescendo feliz e consciente de que a vida vai me embalando entre minha condição de menino e minha obrigação de estudante.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 11/03/2010
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