ISSO NÃO SE FAZ, JORGINHO!!
Apesar de possuir um “abrigo” bem legal, com vista para o mar, bem perto do Projeto Tamar em Guriri, ES, eu não costumo me animar muito para habitá-lo, porque uma vez ali quem tem de cantar a musiquinha da escrava Isaura no fogão e no tanque sou eu.
Como tenho bom coração, andei emprestando-o para amigos ou alugando-o para desconhecidos. Esses últimos me decepcionaram, pois alguns resolveram levar como “recordação” panelas, pratos, ventilador e até mesmo o pau da barraca de praia. Outros “inquilinos” resolveram deixar como lembrança, nos colchões, restos de vômitos ou daquilo que as crianças que não sabem usar o vaso sanitário o fazem.
Neste carnaval, evitando ter de cantar “Lerê-lerê...”, eu e minha família decidimos curtir apenas dois dias da folia de momo: um em Guriri e outro em Conceição da Barra, aceitando a gentileza de minha amiga Jussara Carvalho Oliveira, que gentilmente me cedeu a chave de seu apartamento.
Adooooooroooo a Barra (meu leitor assíduo conhece a crônica em que relato o episódio em que eu quase me tornei proprietária de uma casa na Bugia), por alguns motivos: o povo hospitaleiro, as casas antigas, as ruas estreitas, as peixarias, o meu amigo João Luiz (que me cede os melhores VGs do mundo) a paisagem de um modo geral...
No carnaval, porém, o que eu mais gosto na cidade berço da formidável escritora Bernadete Lyra, é da possibilidade de rever bons e antigos amigos, sobretudo aqueles que me lembram nossas aventuras da juventude: o Mazinho (Gilcimar Vieira, meu amigo que residiu muitos anos nos USA), a Pretinha (Maria Ascenção), o Nilton e a Marcília Fantin Fundão, o Carlinhos e a Mônica Fernandes Pestana, a “Fiotinho” (Rita Pestana Johnson), o Naldo e a Sheylinha Tavares, o Joaquim e a Nenete (Marinete Silvestre Bastos), o Evandro e Teca ( Maria Thereza Durão Guimarães)... São pessoas tão queridas que me fazem reforçar a certeza de que a amizade é um dos bens mais preciosos a se guardar.
Além desses companheiros antigas peraltices, encontro outras pessoas queridas como Janerci e Aninha Paraíso, Gustavo e Daniela Dalvi Lopes, Gustavo e Bárbara Dalvi (com minha lindinha Bibi), João Miguel e Josmari Araújo dos Santos, Edvaldo Bezerra, Alice e José Américo Ramos, Manelão e Conceição Calmon, Maria Luiza e Paulinho da Panan (Paulo Joaquim Nascimento), Anair Guidini, Júnior e Lúcia... é muita gente boa, meu leitor !
Esse povo todinho e mais um tantão, faz questão de esperar a Banda Musical “Oliveira Filho”, mais conhecida como “A Bandinha” e sai feliz da vida, cantando e dançando miudinho à frente ou atrás dos músicos, pelas ruas estreitas da Barra.
Na segunda-feira, meu leitor, para nossa tristeza, descobrimos que “A Bandinha” não sairia, que ela teria de “atender” a outros locais do município, e que naquela noite a escolhida era Itaúnas.
Tínhamos duas opções: ir pululando na pipoca do bloco Pára Raí (enoooorme) ou ficar “mamando dedo” na praça. Como nossa idade não permite mais acompanhar o vigor dos adeptos de trios elétricos, escolhemos a segunda. Minto, eu optei por “mamar latinha de cerveja” na praça e jogar conversa fiada com Thor, Aninha, Marcília e Nilton, até a minha bexiga encher e “forçar” a intercessão de minha amiga Teca, que, solidária com minha aflição, convenceu uma gentil moradora a ceder-me o sanitário de sua casa.
Naquela noite, fomos dormir cedo. Ao repousar meu corpo, lembrei-me da “Oliveira Filho” que fora tocar alhures. Demorei a dormir e resolvi fazer um monólogo imaginário em homenagem ao prefeito de Conceição da Barra:
_ Itaúnas não é a terra do forró? Não é conhecida e prestigiada nacionalmente? Até Elisa Lucinda não tem casa lá? Lá já não é bom demais? Precisava mandar “A Bandinha”? Os “velhinhos” de lá queriam-na também, é? E nós? Como ficamos sem nossa queridinha? Não está na hora de aumentar o número de músicos ou de cloná-la, não? Sinceramente? Isso não se faz não, viu, Jorginho!
Não esperei resposta. Dormi aliviada com meu desabafo.