O TELEFONEMA
Nesta quarta-feira, dia 09 de dezembro de 2009, eu recebi um telefonema de Maria Simon, esposa de Miguel Calmon. Ela me disse que Dona Joacyr queria falar comigo e que eu me limitasse a ouvir, pois ela não seria capaz de me escutar. Garantiu-me que, a seguir, ela me ouviria e interpretaria para minha inesquecível professora, o que eu quisesse lhe transmitir.
Em frações de segundos, enquanto a moça falava, passaram pela minha memória as aulas de Dona Joacyr Calmon. Voltei a me lembrar dela nos ensinando sobre os sumérios, os acádios, os amoritas, os assírios, os elamitas e os caldeus. Naveguei pelos rios Tigre e Eufrates, viajei pela Mesopotâmia, algum tempo depois cheguei ao Egito e me encantei com os faraós...
Recordei-me do dia em que nos disseram que ela não mais poderia nos ensinar (e colocaram em seu lugar a Acely, uma ótima professora de História também), pois ela iria ser nossa Diretora. Isso alentou o meu coração e os alunos da década de 70 conheceram uma das pessoas mais dinâmicas e decentes da história da educação linharense.
Dela me tornei amiga e ouvi coisas que apenas uma mãe nos diria: “Você é muito jovem para pintar os olhos com sombra azul e delineador!” ou “O que te deu para se filiar ao MDB, Norma? Sabia que futuramente isso poderá lhe prejudicar?” Se aprendi com o primeiro conselho, nada fiz para corrigir minha disposição para lutar por minhas crenças políticas.
Com Dona Joacyr eu abria meu coração para desabafar sobre meus conflitos de adolescente, para ela eu pedi para ensinar francês, português e inglês na Emir (ainda na condição de aluna), com ela eu e todos os professores fizemos duas viagens inesquecíveis, uma para Porto seguro e outra para Ilhéus- BA, por ela e para ela eu fui a fotógrafa das excursões e também da homenagem que todos os alunos lhe prestaram, quando a presentearam com um anel solitário de diamante.
De volta ao telefonema, meu coração estava disparado com a notícia de que minha amada e inesquecível Diretora queria falar comigo... E comecei a ouvir uma voz fraquinha e amorosa me dizer diversas coisas: “Minha querida aluna, Norma Astréa, que bom que você sempre se lembra de mim. Gosto muito do que você escreve, você me faz rir ou pensar com seu jeito esperto de escrever. Você sempre foi uma boa aluna e professora, o privilégio é meu de você ter estado em minha vida. Obrigada por sempre se recordar de mim. Como você sabe eu perdi a audição e não foi por não ter buscado recursos, primeiro com Dr. Jayr Fregona....”
Enquanto ela falava, comecei a chorar pela impossibilidade de abraçá-la fortemente, de beijá-la fraternalmente e de dizer-lhe: “Ninguém consegue ser tão amado por tanto tempo, se não marcar indelevelmente os corações de seus alunos. Enquanto eu viver, a sua história como educadora será informada às gerações, que precisam se espelhar em exemplos de amor à educação.”
Emocionadíssima, acho que eu não consegui dizer tanto... pedi à Maria que lhe dissesse, sobretudo, que seu telefonema era um privilégio e que eu sempre vou amá-la. Espero que ela tenha conseguido passar a minha emoção também.