PROVA DE LÓGICA
Estava indo para um de meus trabalhos no dia 25/11/2009, quando me deparei com um outdoor perto da rotatória da Escola Emir de Macedo Gomes. Ele é assinado pelo Gremece (Grêmio Estudantil) daquela querida escola, onde estudei da quinta série (1º ginasial) ao 3º ano do Ensino Médio (antigo 2º grau). Considero-me privilegiada por ter sido dirigida por alguém inesquecível como Dona Joacyr Carvalho Calmon e por ter tido professores competentes (a quem não me canso de exaltar em minhas crônicas), com os quais adquiri quase toda a base daquilo que hoje julgo saber.
Minhas fotos e memórias estudantis de 1968 a 1975 têm algum canto, algum rosto ou algum fato relacionado ao meu querido “Colégio Estadual”. Ali eu fui baliza da banda, sua instrumentista, aluna durante 08 anos (reprovei no 1º ginasial) e também professora de Francês, Português e Inglês.
Por tudo isso, tenho imenso respeito por qualquer profissional da educação que trabalhe naquela escola e me emociono quando vejo a linda mancha verde e branca de meninos ou meninas entrando, saindo, ou para ela se dirigindo.
Neste ponto e para justificar o título desta crônica, evoco um pensador que não me foi apresentado durante o tempo em que estudei na Emir, talvez porque não interessasse ao governo militar da época incentivar as pessoas a pensarem: Aristóteles. Hoje os novos alunos daquela escola, com certeza, têm aulas de Filosofia e Sociologia, e podem ter um Grêmio Estudantil. Eu considero tudo isso uma maravilha.
No meu caso, eu poderia optar por ficar alienada e/ou acomodada em relação a certos conhecimentos, mas escolhi duas coisas: descobrir tudo o que me interessa e que as escolas onde estudei não me ensinaram, e, simultaneamente, arregaçar as mangas e conquistar com meu suor tudo que “não me deram”, inclusive a formação posterior.
Então, estudando autonomamente, aprendi que Aristóteles nasceu em 384 a.C (15 anos após a morte de Sócrates) em Estagira e faleceu em 322 a.C em Cálcis. Ele Foi discípulo de Platão na Academia de Atenas, durante 20 anos, foi preceptor de Alexandre “O Grande”, quando criança, e foi o fundador do Liceu, uma escola de filosofia onde ele dava aulas passeando com seus alunos. Como elas normalmente aconteciam na colunata Perípatos, seu método ficou conhecido como peripatético.
O “cara foi uma fera” e entre seus livros destaco: Ética a Nicômacos”, “Ética Êudemos”, “Ética Maior” e “Órganon”.
Nesta última obra, Aristóteles nos ensina sobre a Lógica, que pode ser definida como “um método, uma técnica, uma ciência e uma arte do pensar corretamente”. Por meio dela, aprendemos a criticar o nosso pensamento (e o alheio), evitando falar ou escrever tolices e também a detectá-las, quando as vemos ou as ouvimos.
O referido método é relativamente simples, e envolve testagens de premissas à luz de 08 regras: 1ª- O silogismo dedutivo deve ter apenas três termos; 2ª- O termo médio nunca pode entrar na conclusão; 3ª- O termo maior é predicado na conclusão e o termo menor é sujeito da conclusão; 4ª- O termo médio tem que ter extensão universal em pelo menos numa das premissas; 5ª- Nenhum termo pode ter maior extensão na conclusão do que nas premissas; 6ª- Na conclusão segue-se a parte mais fraca; 7ª- De duas premissas negativas nada se pode concluir.; e 8ª De duas premissas particulares nada se pode concluir.
Aristóteles nos ensina que ao transgredir tais regras, podemos incorrer em duas coisas que em minha opinião são graves por esconderem ou a tolice ou a má fé: FALÁCIAS e SOFISMAS. Explico-as: quando inconscientemente declaramos algo, apoiados em argumentos de antiguidade, de força, de autoridade, de maioria, de sonseira, etc e tal (há dezenas de tipos), estamos, na verdade, fazendo uma falácia.
Quando, por outro lado, conscientemente, declaramos algo visando a confundir a interpretação alheia, estamos utilizando sofismas e, de certa forma, agindo como os sofistas, que eram os especialistas em ensinar e vender argumentos, muitas vezes sórdidos. Ao sabor dos compradores, os argumentos podiam culpabilizar inocentes ou inocentar culpados.
Considerando a importância deste conhecimento não apenas para quem queira ser um bom analista de discursos, mas, sobretudo para quem pretenda ser crítico e justo; na condição de professora, eu proponho uma questão interdisciplinar diretamente aos meus alunos, e indiretamente aos meus leitores que gostem de pensar:
1) Considerando seus conhecimentos adquiridos em nossas aulas; examine, à luz da Produção Textual e da Crítica do Conhecimento, a seguinte declaração exposta em outdoor em Linhares:
“SOMENTE A FACELI, UMA INSTITUIÇÃO CONSTRUÍDA COM O DINHEIRO DO POVO PODE OFERECER CURSOS DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO GRATUITOS E DE QUALIDADE.”
A seguir:
a) identifique onde falta uma vírgula e justifique a sua função no período;
b) considerando a validade ou invalidade das premissas explícitas ou implícitas; classifique a declaração acima, do ponto de vista da lógica aristotélica, e justifique sua resposta.