A PAIXÃO


                               A PAIXÃO
 
 
 
               
Um dia, há muito tempo, eu me apaixonei por um homem.

          Eu acabara de me formar em engenharia civil e sabia calcular concreto armado. Tudo que eu aprendera me levava a querer trabalhar e experimentar o prazer de trabalhar por conta própria. Uma novidade na vida que eu não perderia por nada no mundo. Tinha vinte e cinco anos, era linda, perfeita, inteligente e saudável. O trabalho era a porta da liberdade de exercer a minha essência humana.

          Até então, eu vivera com uma semanada que me permitia cursar a faculdade, almoçar e jantar no “bandejão” da faculdade e, em todos os fins de semana, voltava para Petrópolis, casa dos meus pais e Clínica da minha mãe , que me abastecia para a semana seguinte, isso durante cinco anos.
          
          Formada, diploma e carteira na mão, fiz meus contatos e me apresentei em um escritório de cálculos na Av. Almirante Barroso, centro da cidade.


          Eu era pura alegria e vontade. Pureza também. E muita confiança. Fé na vida.


          Fui otimamente recebida e admitida. Dois colegas mais antigos, uns cinco anos na minha frente, Peçanha era um deles, outro era um doce de pessoa, mas perdi seu nome no tempo, cada um em sua prancheta, e rolou logo simpatia e bom entrosamento entre nós. E mais o chefe do escritório, Amauri Rodrigues Cardoso, que se encantou comigo também. Ali fui desenvolvendo a prática de calcular e de desenhar a ferragem nas vigas, pilares e lajes. Uma alegria todos os dias, em pleno Rio de Janeiro, apartamento alugado na Paissandu, ordenado mensal. Vida organizada, simples. Na hora do almoço íamos cada dia num dos melhores restaurantes do Centro.
          Era a hora da alegria e despreocupação. Muito papo, muito riso, humor! Curtir os melhores cardápios! A vida era uma festa.


          Participei do cálculo de diversos prédios do Rio, com orgulho. E assim rolaram meses e meses. Com Amauri eu me entendia muito bem, alegre como eu, vivíamos rindo, conversando e trabalhando. Eu já fazia parte do Escritório.

 

          
Mas um dia foi diferente.

          Eu entrei e me sentei numa poltrona defronte da mesa do Amauri, sorri e o fiquei olhando. Ignorei a prancheta, na verdade não me lembrei dela. Meus olhos estavam presos no homem à minha frente, e meu encantamento por ele era total e absoluto. 
          Eu só sentia o imenso prazer de admirá-lo com um encantamento que se instalou ali naquele momento. 
          Eu nem pensara em nada e também continuava ali sem pensar em nada, só sentia a felicidade de adorá-lo, olhando sua face querida, suas mãos, seu jeito de ser, adorando-o. 

          De repente ele era o maior encanto, e só existia ele para mim. Percebi os colegas constrangidos entendendo o que nem eu entendia direito, mas eu estava totalmente apaixonada por ele. O sentimento prevalecia e nada existia mais pra mim que eu e ele. 
          O trabalho deixara de existir, convenções e quaisquer outras considerações desapareceram. 

          Eu sintonizara nele, naquele momento que abrira a porta, entrara e tomei lugar à sua frente, envolvida por uma magia em que funcionou só o meu instinto e sentimento.

          Estava enamorada dele, e isto estava acima de qualquer consideração. 

          Estava diante do amor e da paixão. Absorta.  Aquele homem era tudo pra mim. Fazia-me tão feliz como nunca o fora. 

          Era mais real que a realidade do escritório. Ele entendeu e sorriu pra mim aprovando a minha presença diferentemente atuando naquele dia.  De vez em quando, sorria encantado e carinhosamente pra mim, nós dois nos namorando descaradamente não ligando mais ao lugar e à situação que se formara. Ele estava maravilhado  também. Sentíamos a felicidade. 


          
Havíamos nos encontrado como homem e mulher.

          Foi o homem mais charmoso, encantador, alegre e apaixonado que já conheci. 

          Eu teria sido tão feliz com ele.
 
          Mas a vida me levou a outros caminhos e eu não estava preparada para ele.