No dia em que ela se foi
No dia em que ela se foi
Acordei cedo. O dia amanheceu nublado. Mais tarde, saí à janela para ver o tempo. Olhei para o céu e me senti muito triste. Tão triste como a cor do dia. Caía uma fina garoa. Nunca gostei de dias assim. Desde pequena dizia que dias nublados me deixavam angustiada. Mil pensamentos me vinham à mente, mas logo procurava esquecê-los. Em dias cinzentos como esse, é bom ficar em casa, pensei. Mas uma vontade de sair falou mais alto dentro de mim. Era bom sair para esquecer as lembranças tristes que chegavam, trazidas pelo tempo nevoento e que teimavam em ficar na minha mente.
Por que esses pensamentos vêm atropelar minha cabeça, agora? Ela não estava boa, quando saí de lá, no domingo à tardinha? Não estava tão feliz e animada, a dizer para todos que o seu coração estava “jóia”? Por que me preocupar? Era só o dia que estava triste! E eu por causa do dia...
Mergulhada nesses pensamentos, chega uma notícia mais triste que toda tristeza daquele dia! Ela estava passando mal. Mas como? Por quê? Ia morrer? Não!... Estava tão bem...
Era verdade. Minha mãe estava muito mal. Desenganada pelos médicos.
Não sei como, quando dei conta de mim, já estava na estrada, carregando a tiracolo três crianças que, na sua inocência, nada entendiam daquele grave momento.
O dia não estava nublado, nem cinzento, a mais ou menos cem quilômetros. Mas meu coração estava. Continuou nublado, pois estava triste, muito triste.
O sol botava seus raios dentro de casa, sem economia. Janelas e portas foram abertas para receber dos parentes e amigos as condolências. Minha mãe falecera às dezesseis horas. O sol brilhava no céu azul, enfeitado de nuvens brancas que pareciam capuchos de algodão. Daí a pouco, chegaria a noite, que seria iluminada por mais uma estrela que subira!
Mas no meu coração ficara uma sombra daquele dia cinzento, de fina garoa. Era oito de julho de 1980.