Comportamento

A cliente diz ao caixa:

- Pode me trocar essas duas moedas de um real por uma nota de papel?

- Como senhora? - diz o caixa distraído.

- Quero dois reais em nota de papel! - responde a cliente aos berros, enfiando as moedas na frente dos olhos do jovem. - Acorda, moleque!

Essa reação insensata e desnecessária causa um universo de opiniões entre os que estão ao redor nessa e em outras filas:

- Que mulher sem educação.....!

- Deve estar estressada!

- Coitada..... Não se sabe quais problemas enfrenta em sua vida.

- Brigou com o marido e vem descontar no rapaz....

- Está precisando de um namorado.....

- Não teve mãe que a educasse, nem freqüentou escola.

- Vai ver que está com alguma dor.....

- Lidar com o público é uma arte.....

Sim, lidar com o público é uma arte e como toda arte requer aprendizado e experiência.

Não basta saber como reagem certos tipos de pessoas em determinada época, pois a sociedade evolui e devemos evoluir juntos, inclusive no trato do dia a dia, que de tempos em tempos, se não reciclarmos nossa habilidade, certamente agiremos de forma jocosa que alguns nem entenderão.

Lembro-me de certa ocasião em que encontrei uma pessoa conhecida e, cheia de amabilidades, perguntou-me: - Como vai a senhora sua mãe?

Hoje, muito tempo depois, encontrei com outra pessoa, também curiosa sobre a saúde de minha mãe: - Como vão os velhos?

Tempos, costumes, mudança de linguagem, modismos, dias atarefados, noites mal dormidas, trabalho estafante, inversão de valores, necessidade de ascensão social, busca pelo status, a difícil manutenção do status já adquirido, quanta interferência para que nossas atitudes se adaptem e nos façam não parecer um marginal dentro de um grupo que se perdeu em algum ponto do caminho e não permite que um simples diálogo de significado irrelevante para qualquer uma de nossas necessidades se torne um “cabo de guerra”, numa hora rotineira e de descontração onde os envolvidos jamais poderão se vangloriar de suas atitudes por nobreza ou melhor caráter.

Minha vez de passar pelo caixa:

- Viu como a mulher gritou comigo?

- Não liga, não, meu filho. É apenas gente.

Ana Toledo
Enviado por Ana Toledo em 10/03/2010
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