MEGA SENA, UM PRESENTE DOS DEUSES?

MEGA SENA, UM PRESENTE DOS DEUSES?
A exemplo dos demais mortais, tenho perseguido com afinco os números da mega sena. Às vezes, até com redobrado afinco quando o sorteio passa dos 30 milhões. Tal quantia financiaria bemos meus modestos sonhos. O diabo é que vivo batendo na trave! Se jogo 02,dá 01 ou 03; se 33, dá 34 ou 32, e por aí vai!
Aborrecido com essa repetida brincadeira, marquei recentemente um volante utilizando nova estratégia: insinuei marcar um número e desviei rápido para o outro seguinte; fiz que ia marcar outro e preenchi o anterior a ele. E assim seguiram os demais. Resultado: o vexame foi pior que os anteriores.
Bom tempo se passou, tramei uma embolada. De posse das datas de nascimento minha, da mulher e dos filhos, apliquei àquela “numeraiada” minha matemática cabalística: somei por aqui, deduzi por ali, “novesfora” a que tinha direito até apurar os seis números mágicos. Observei que eram próximos, alguns “encavalados” na mesma dezena. Ali, estava o joguinho do Tiluço.
Meu velho tio Luciano, Tiluço, oitenta e tantos anos, alheio a qualquer tipo de jogo, pedi-o marcar uma cartela . Esclareci-o acerca da escolha dos números e passei-lhe o material. Marcou 01,02,03,04,05 e 06. Olhei para aquilo reprovando o palpite. Expliquei-lhe novamente.
--- Marca de novo!
Ele olhou demoradamente a cartela e sapecou: 51,52,53,54,55 e 56!
--- Não, meu tio! Esse trem seguido assim, num dá nunca!
Dessa vez mirou-me nos olhos demonstrando sua impaciência com tudo aquilo. Tomando nova cartela, marcou: 23,24,25,26,27 e 28.
Desisti.
Foi justamente um sorteio que saíram o 24,25 e o 26, ou perto disso!
As minhas cartelas cabalísticas?... me tornaram um mero alimentador de sorteios.
Jogando os seis números apenas, sem nenhum resultado, compreendi como os desejos e os sonhos nos cegam.
Arriscando o joguinho simples, de seis números, concorremos contra a fantástica probabilidade de mais de 50 milhões de possibilidades! É um jogo para tolos ou para predestinados. Mas vou continuar sendo um tolo, pois tenho cá, comigo, que o dia em que eu desistir os números virão!
Daí não quero viver a síndrome do Geraldo.
Geraldo vendia secos/molhados numa firma aqui de Goiânia. Estive com ela por uns quatro anos, e por três deles fui testemunha do cambista lhe entregar semanalmente um bilhete, cujo número final era 92. Depois, não sei por que cargas d’água chutou o pau da barraca dispensando o cambista e suas insistências. Veio então a 5ª. feira; as meninas cantaram a pedra e o prêmio. Dera urso na cabeça! Saíra o número perseguido por Geraldo! Desde então, dava pena; a frustração jamais desgrudou da cara dele.
É verdade que muitos ganharam jogando pouco, joguinho simples e ganharam. Estes, entretanto, são afortunados, são aqueles que Deus afagou suas cabeças, as quais deveriam agradecer seguindo a linguagem canônica sagrada: “Deus nobis haec otia fecit”*, para maior suplício dos incrédulos.
A vida, meus amigos, tem suas ironias; o jogo, suas predileções sorrateiras.
No início dos anos 70, chegavam a Goiânia os primeiros volantes da loteria esportiva. Havia na praça do Bandeirantes o “Sorvetna”, grande bar lanchonete autorizado a receber as apostas. Registravam-nas posteriormente em São Paulo.
Consultei os jogos, imaginei os prognósticos, marquei os PLACARES e entreguei o esperançoso volante à mocinha encarregada do registro.
A moça correu os olhos no papel, devolvendo-o incontinenti:
--- Tá errado.
--- Como?
--- Não precisa anotar os placares dos jogos! Marca só o palpite com um “x” e pronto!
Surpreso, virei pra ela:
--- Mas assim é fácil demais!
Num esgar de desprezo, ignorou-me franzindo os lábios. É lógico que pensou: “Idiota!”
Nunca passei dos 11 pontos.


ADVERTÊNCIA – Não vale deixar intencionalmente de jogar os números perseguidos e passá-los aos parentes ou amigos.
Lembre-se: o jogo tem suas preferências sorrateiras. Morou?

* Deus nos concedeu esse descanso.