JEGUEDÉ, UM GRANDE POETA!
Na noite do dia 04 deste mês, eu tive a satisfação de assistir à cantoria dos repentistas Edvaldo Zuzu e Bio Dionísio, no Espaço Cultural Alberto Cunha Melo, instalado no Bar e Restaurante Nosso Quintal, ao lado da Chesf, no bairro do Bongi, aqui no Recife.
Essa cantoria foi realizada com o apoio cultural do Programa Voz do Sertão, que é apresentado pela poetisa Roberta Clarissa, na Radio Folha, 96,7 FM, de segunda a sexta-feira, das 12:00 às 13:00 horas.
Naquela ocasião também houve o lançamento do cordel “Assim fazia Zé Limeira” de autoria dos poetas Jeguedé e Luis Gondim, usando um mote gravado pelos repentistas Moacir Laurentino e Sebastião da Silva.
Todo o evento transcorreu dentro do esperado, mas a minha grande alegria foi conhecer o poeta Jeguedé e principalmente seus trabalhos. Jeguedé, não é cantador profissional, mas tem belos trabalhos escritos e no dia 29 de julho de 2009, enfrentou pela primeira vez um duelo com a repentista Santinha Maurício no Programa Voz do Sertão.
Na cantoria de Edvaldo Zuzu com Bio Dionísio, eu adquiri um exemplar do cordel “Tô sempre sintonizado/Ouvindo a Voz do Sertão”, de autoria de Roberta Clarissa, Santinha Maurício, Luis Gondim e Jeguedé. Todos excelentes poetas! Mas fiquei impressionado com a boa qualidade dos versos do poeta Jeguedé.
Dentre oito poesias de sua autoria, eu escolhi essa para mostrar o quanto Jeguedé é um grande poeta, com versos simples e belos:
UMA FOTO EM PRETO E BRANCO
Numa noite de insônia
Que não consegui dormir,
Já que o sono não vinha
Então resolvi sair.
Botei a chave na mão
Mas quando abri o portão
Senti uma noite fria
E eu tristonho da vida
Entrei por uma avenida
Sem saber pra onde ia.
Trinta minutos ou mais
Andei sem ter um roteiro
O carro com o tanque cheio
No bolso muito dinheiro
Cruzei três ruas estreitas
Desci pela Rêgo Freitas
Fui na Amaral Gurgel
Aí, tentei retornar
Mas sem querer fui parar
Bem em frente a um bordel.
Eu disse com meus botões
Não sei se devo entrar
A esta hora da noite,
Não conheço esse lugar
Uns dois minutos pensei
Depois no bordel entrei
Falei ao garçom assim:
Traga uma dose qualquer
Nisso veio uma mulher
Sentou-se perto de mim.
Boa noite, cavalheiro,
A primeira frase dela.
Retribui em seguida
Com boa noite pra ela.
Ela chegando juntinho
Me perguntou bem baixinho:
Está esperando alguém?
Notei algo em seu olhar
Respondi: neste lugar,
Eu não conheço ninguém.
Ela disse: quem é vivo
De vez em quando aparece
O Senhor não é estranho
Aqui alguém lhe conhece
Olhei bem firme pra ela
Meus olhos nos olhos dela
Lhe disse: estou sendo franco.
Nisso ela se levantou
Abriu a bolsa e mostrou
Uma foto em preto e branco.
Veja se identifica
Esta foto, por favor,
Pois esta fotografia
É a cópia do Senhor.
Olhei e fiquei calado
Meu corpo ficou gelado
Pois o retrato era o meu
Chorando ela me dizia:
A sua fotografia
Foi minha mãe que me deu.
Mas quem é a sua mãe?
Assim perguntei pra ela
Ela disse: aquela jovem
Que você foi dono dela
Depois a engravidou,
Por fim lhe abandonou,
Motivo, não sei porquê
Logo depois eu nasci
Só hoje é que descobri
Que o meu pai é você.
Sem entender as razões
Porque nos abandonou
Muitos anos se passaram
Assim caminhando vou
Não vim lhe pedir herança
Só tenho como lembrança
A sua fisionomia
Também não sei dos seus planos
Mas guardo há vinte e seis anos
A sua fotografia.
Ser órfã tendo pai vivo
São coisas que eu confundo
Lições na vida não tive
Meu professor foi o mundo
Escuto, vejo e aprendo
Tem coisas que não entendo
E o tempo vai se passando
Sozinha desiludida
Assim vou levando a vida
Quem sabe Deus, até quando?