PAIS E FILHOS MODERNOS

Meu velho, faz muito tempo que eu estou querendo falar com você. Já lhe telefonei várias vezes, deixei vários recados na secretária eletrônica do seu celular, mas, pelo que pude sentir você ainda continua muito ocupado. Também já lhe mandei alguns e-mails, mas você não os tem respondido. Tenho entrado todas as noites no MSN para ver se você está online, sem nenhum sucesso. Tenho apelado até para os recursos oferecidos pelo Orkut e algumas de suas comunidades, mas todas essas minhas tentativas têm sido em vão.
Tenho de reconhecer que você é uma pessoa muito ocupada, assim como eu, e posso lhe assegurar, sem nenhuma sombra de dúvida, que somos vítimas das multiplicidades ocupacionais proporcionadas por essa correria desenfreada em busca do topo econômico-financeiro que a vida moderna nos impõe. Eu, por exemplo, tenho tentado ser patrão e empregado, simultaneamente, e isso, inegavelmente, tem me roubado parte do tempo ocioso que eu teria disponível para me divertir e visitar alguns dos meus amigos, assim como você e você também há de convir que já faz muito tempo que a correria da nossa família é de fazer inveja a qualquer prole por mais agitada que ela seja.
Um dia desses, enquanto eu almoçava, às pressas, num self-service do centro da cidade, eu vi mamãe, ao vivo, participando de uma reportagem relâmpago de uma dessas redes televisivas que buscam seu espaço no mundo competitivo da comunicação de massa. Ela estava muito bonita e bem falante como nos velhos tempos. Quis me aproximar dela, pois o assunto da reportagem era sobre o relacionamento familiar moderno, mas não consegui. Enquanto ela esteve ali, eu lembro que ela falou muito bem de você. Fez inúmeros elogios à sua atuação como um pai presente durante todos aqueles anos em que nós (eu, ela e você) estivemos dividindo o mesmo teto. Hoje, depois de crescido, confesso que estou muito orgulhoso de ter você como um dos responsáveis pela minha criação, evolução pessoal, educacional e profissional.
Ó meu velho, se lhe sobrar um pouco de tempo, dê um pulinho lá em casa nesse próximo domingo. Como eu já fui informado pela mãe do meu filho que ele não virá me visitar nesse próximo fim de semana, justamente nesse dia que é dedicado a todos os pais, eu convidei alguns filhos, assim como eu, que não têm conseguido manter um contato mais estreito com os seus pais, e juntos iremos lhe fazer uma homenagem coletiva. Se você vir mamãe, convide-a, por favor.
Além desta comunicação que estou deixando com o porteiro do seu prédio, eu estarei enviando uma carta pelos correios, e assim que ela lhe for entregue dedique um pouco do seu precioso tempo para lê-la e, se for possível, procure respondê-la com urgência, confirmando a sua presença.
Um forte abraço do filho que muito o ama.
Em tempo: Papai, acaso você não conseguir mandar sua resposta de confirmação por carta, mande-a por fax ou através de um telegrama.
Compareça. A sua presença é muito importante!
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 10/08/2006
Reeditado em 27/12/2007
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