FOTOS QUE FALAM


               As máquinas, quando apreendem a imagem, fazem igualmente aos nossos olhos: muitas coisas olham, mas poucas coisas vêem; fotografam, mas não captam com a devida atenção aquilo que foi olhado. De repente, por trás do enquadramento, está o olho do artista, como os de Machado Bittencourt, Antonio David, Gustavo Moura, João Lobo, Guy Joseph e Reginaldo Marinho no seu lindo livro, recentemente lançado, “Verde que te quero ver – retratos de João Pessoa”. E assim, a arte faz a fotografia falar; movimentar-se, quase como no cinema. É a kínesis da arte fotográfica que põe o estático em movimento.
                Arte dessa natureza vem testemunhando e contando-nos a história. Fotografias das quais destaco: “O beijo do marinheiro”, em 15 de agosto de 1945, na Times Square, divulgado pela revista Life, comemorando o fim da guerra entre USA e Japão; “No balanço”, registrando pausa para o almoço de operários sentados numa larga viga de ferro, no sexagésimo nono andar do edifício Rockefeller Center, em 1932, marcando a idade de ouro dos arranha-céus; “Desafio ao poder”, com um desconhecido jovem chinês desafiando tanques enfileirados, em 5 de junho de 1989, na Praça Tiananmen em Pequim; “Alça bandeira”, símbolo da tomada da ilha de Iwo Jima, na 2ª Guerra Mundial, por soldados norte-americanos; “Átimos de glória”, que registra um soldado russo alçando a bandeira da então União Soviética, no topo do Reichstag de Berlim, quando os russos, depois do sacrifício de vinte milhões de compatriotas, puseram fim à 2ª Guerra Mundial e ao Fürher do nazismo; “Condenação”, a execução sumária de um vietcongue nas ruas de Saigon, em fevereiro de 1968, despertando grandes protestos contra a guerra no Vietnam; no mesmo ano, na aldeia vietnamita de Trang Bang, o fotógrafo Nguyen Kong mostrou ao mundo a menina de 9 anos, Kim Phu, nua, coberta de chamas de napalm, correndo desesperadamente sem direção. E tantas outras. Há também retratos mais do que divulgados, especialmente pelos judeus, sobre os campos de concentração e holocausto nas câmeras de gás da irracionalidade nazista.
               Hoje, com semelhante impacto dessas últimas, vejo fotos das forças israelitas invertendo o que diz o Torá. Sendo mais Golias do que Davi, reproduzem o holocausto em Gaza, como se estivessem vingando os sofrimentos nos campos de concentração. Fotos que gritam mais do que falam. Sofisticados morteiros, made in USA e vendidos pelo belicoso Bush, explodem no ar, fazendo chover nos jardins, casas, escolas e hospitais pontiagudos pedaços de aço indiscriminadamente sobre os corpos de inocentes vítimas, assassinando assim inúmeras crianças. Estarrecidos de dor, os pais enterram seus filhos. Nas cores dos jornais, pálidas faces de meninas e meninos, mesmo mortos, preservam os olhos abertos. São olhares vivos, persistentes, ora de espanto ora de medo, mas sobretudo de incompreensão à perversidade que viram antes de morrer. A revolta clama para que, o quanto antes, cumpram-se as escrituras: Ai! de quem tocar nesses pequeninos. Melhor fora a esses criminosos que lhes pendurasse aos seus pescoços uma pesada pedra e os submergisse na profundeza do mar.
               Olhai a foto, “olhai os lírios do campo”, ceifados no desabrochar das suas vidas; flores quase em botão na sua expressão mais bela. Tenras crianças escandalizadas pela maldade humana. Onde? Sim, naquela terra santa, marcada também pela crueldade dos homens brutos.