O imperador da Chatuba
O Imperador da Chatuba
Jorge Linhaça
Adriano, o "imperador", jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira, envolveu-se recentemente em um escândalo com sua namorada. Até aí poderíamos apenas considerar como uma desavença entre namorados, coisa não rara de acontecer com a maioria das pessoas.
O que preocupa, no entanto, é o lugar onde isso aconteceu, numa festa/baile funk na comunidade da Chatuba, Vila Cruzeiro, dentro do complexo do Alemão.
A namorada enciumada de Adriano, passou a depredar os carros de outros jogadores do Flamengo só parando a sua fúria quando foi ameaçada pelo goleiro Bruno de ser agredida por ele, caso atacasse o seu veículo.
Segundo consta dos relatos, Adriano teria pedido ao traficantes presentes à tal festa/baile que, se acaso a menina não se controla-se a amarrassem a um poste até que ela se acalmasse.
Não vou aqui fazer juízo sobre o "barraco" em si. Afinal, como disse o alterado Bruno em uma entrevista, em briga de marido mulher ninguém deve meter a colher.
O que causa preocupação é a conduta do dito "imperador" figura pública e idolatrada por muitos jovens torcedores.
Segundo dirigentes do Flamengo, Adriano sofre de dependência química, ao menos de bebidas alcoólicas.
Parece que tudo isso teve origem quando do falecimento de seu pai, figura de referência para o jogador.
Adriano teve uma infância pobre e sempre que pode diz que o lugar onde se sente bem é na comunidade onde cresceu. Até aí nada de se estranhar, seria até um ponto positivo a favor do atleta, como é para tantos outros que depois de famosos procuram ajudar a sua comunidade de alguma forma.
O problema é que Adriano, ao invés de dar um exemplo de superação, da capacidade que a pessoa tem de, apesar do ambiente onde é criado, afastar-se dos caminhos tortuosos e singrar o seu próprio caminho em busca de um futuro melhor, parece perder-se no caminho e fazer justamente o contrário.
Adriano não pode alegar falta de condições financeiras para buscar um tratamento para superar a sua dependência.
O Flamengo não pode apenas omitir-se e achar tudo isso absolutamente normal, tratando-o com regalias como se nada houvesse acontecido.
Não falo aqui em punições ou coisa desse tipo, no entanto, o mínimo que o clube pode e deve fazer é dar apoio psicológico e exigir que ele faça um tratamento o mais breve possível.
Adriano não é, infelizmente um caso isolado, de atletas que, oriundos de comunidades carentes, conseguem melhorar a sua situação financeira mas carecem de uma preparação psicológica para lidar com a fama quase instantânea. Não se trata portanto de condenar a essas pessoas mas de alertar àqueles que os tem por ídolos que, comportamentos como esses não devem ser reproduzidos.
A aparente amizade de Adriano com bandidos e traficantes serve apenas aos propósitos destes últimos para atraírem para si os jovens, glamourizando a criminalidade.
Anos atrás participei de uma conferência com líderes religiosos e, a esposa de um deles disse uma frase que guardei bem dentro de mim e que parece adequar-se perfeitamente a este fato.
" O difícil não é tirar o homem de dentro da favela, o difícil é tirar a favela de dentro do homem".
Independente de onde as pessoas nasceram ou vivem, muitos carregam dentro si verdadeiras favelas, construções improvisadas e amontoadas umas nas outras. Sua estrutura emocional é composta de retalhos qual o desenho de uma favela com seus subsequentes "puxadinhos"
Não há fama ou situação financeira que resolva esse "quebra-cabeças", essa colcha de retalhos, sem que haja uma necessária reestruturação emocional.
Não adianta querermos construir uma mansão sobre a areia da praia, antes precisamos , isso sim, fortalecer os alicerces daquilo que edificamos.
Adriano carece de uma boa obra de reforço em seus alicerces pessoais, resta saber se está disposto a realizar essas obras e se encontrará alguém disposto e capaz a atuar como um engenheiro de almas.
Desejo ao " imperador" que encontre o seu caminho e supere todas essas adversidades e tenha forças para evitar o atalhos que parecem atraí-lo para o lado mais obscuro quando enfrenta algum problema pessoal.
Claro que desejo o mesmo a tantas outras pessoas em situação semelhante mas com menos exposição e condições financeiras.
Espero realmente que Adriano supere essa fase e possa converter-se, finalmente no exemplo para tantos jovens de sua comunidade e de outras que se espelham nele para buscar seus sonhos.
abraços fraternos
Jorge Linhaça
Arandu, 08/03/2010