Avanço das forças indigentes
Até quando teu corpo será o laboratório das ruas? Ninguém compreende teu abandono em meio ao lixo. As drogas que utilizas é o remédio contra as toxinas da dor. (Teu momentâneo paraíso). Mas quando termina a dose em teu composto de dejetos espalhados entre a multidão que passa, retornas do sonho esquálido sem chance de felicidade.
Vislumbras apenas a fortuna embutida na promessa. Os objetos te seduzem ou nascem de oferta vil. Como aquele gerente monstruoso e organizado, que na dívida te arrancará as vísceras através de papéis, além de todos os instrumentos da sutileza. Pois os objetos te seduzem?
O pouco que consegues para atravessar o frio, a chuva e o alimento escasso se deteriora. Nenhuma alma quer saber se a droga consumida é planta verdadeira de quintal ou veneno de latifúndio. Sim é o espectro quem precisa de alimento claro. Só a logosofia não te tirará da imersão profunda produzida pela arquitetura da penúria.
Os dentes estão podres, as roupas estão sujas e a pele é escura. Negra. Falam em doença. Que está muito doente. Sobrevivente das esquinas e dos raros momentos. Estação de instantânea alegria produzida por gente acossada, enraivecida pela incompreensão; enquanto distribuem aos salões iluminados, perfumados, cheios de risos; a droga desigual como iguaria, por respeito às liberdades fundamentais. Já tua liberdade de sarjeta entre zumbis pernetas é sacudida pelo espancamento, pela brutalidade de contínuo entre a agonia de sempre e a ditadura de agora. A pobreza é uma doença que a droga procura sustentar. Por isso matas e morres. Neste estado mínimo de sonho e fantasia querias tão somente dançar, rodopiar, abraçar sentindo a proteção aos nervos enrijecidos pela dor e a fome de mundo. Sem dinheiro, sem hospitais, querias pertencer ao mundo admirável que só atende pelos seus iguais.
No submundo em desgraça qualquer generosidade é tão estranha, tão comovente... Trafica com carinho o anestésico rudimentar para tanta agonia, tanto desespero, tanto vazio maquiado.
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O laboratório das forças indigentes te produz.
Antes a miséria não tem cura. Como quer a mentira constituída curar uma ilusão? Ferir, encarcerar, ruir. Cada vez mais...
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