Crônica de domingo
As ruas estão quase vazias, comparadas com os outros dias da semana.
Falam baixo; a obra da esquina, um bruto edifício de vinte andares, só tem o vigia com o seu rádio que toca música sertaneja. Baixa, não dá para incomodar, desde que um sargento paraquedista, morador no local há pouco tempo, resolveu dar um ultimato ao ouvinte.
- Você me acorda outra vez com esta merda de música alta e vai engolir o rádio. Sem água!
Discutir com o tal sargento? Nem pensar, parece um tanque de guerra e não um soldado. Deve estar dormindo, ainda é cedo.
Dia com pouco Sol e os pais levam a pirralhada para um grande e bem cuidado parque próximo. Criança também costuma aborrecer, falam alto, discutem, brigam. Hoje não. Os pais acompanham e elas não estão em grupo.
Tem a sinfonia das bombas que puxam água da rua, estão ligadas, os edifícios têm que manter suas cisternas cheias. Essa de lavar com mangueira está proibida. Que coisa, lavar o passeio com água tratada! Falta de educação de uma gente que já não é lá muito educada.
A lanchonete está preparando seus pratos, o cheiro chega aqui. Não é nenhum restaurante francês, mas os pratos são apetitosos, sem falar na deliciosa pizza feita no forno de pedra. Acho que estou com fome. Que tal uma banana madurinha, beleza de cor! Não, banana agora não. Meu chardonnay já está na geladeira, não custa e tomo uma taça mal-educada, cheia até quase a boca.
Vale tudo; afinal hoje é domingo, e para não ser sacrílego, paro de escrever. Vou dar uma saída para comprar o jornal, uma bela desculpa para ficar olhando as mulheres que gostam de flanar nas manhãs de domingo, calmas como esta.