No dia delas

                   Dizem que a mulher é o sexo frágil.
                   Mas que mentira
                   Absurda!

                                             Erasmo Carlos

        O rádio é uma de minhas eternas paixões, que não são tantas.
        Tenho um pequeno Sony que me acompanha nas minhas viagens e, em casa, permanece firme na cabeceira de minha cama. É o meu companheiro nas minhas noites de insônia, cada vez mais frequentes e preocupantes.
        Tentam me consolar, com essa: "É a idade, é a idade. Quanto mais se vive, menos se dorme..."
        Sacanagem! Eles não sabem o que é atravessar a madrugada ouvindo o silêncio.
        Na minha alcova (alguém ainda sabe que palavra é essa?) além do meu Sony, os meus livros. Nada de televisão, que poderia ser usada para ver filmes comportados ou pornôs.
        O impressionante é que consigo ler e ao mesmo tempo ouvir as emissoras que meu pequenino rádio alcança. Pode parecer fácil, mas não é.  
        Mas tive que dar um jeito: sem ele e sem eles, ou seja, sem meu Sony e sem meus livros, não consigo dormir o pouquinho que ainda tenho direito.

                    ***   ***

        Dia internacional da Mulher, com letra maiúscula. Por que não? 
        A rigor, não vejo necessidade dessa celebração. A mulher é de todos os dias; e, em todas as horas, deve ser celebrada; mais do que isso, a-ma-da!
       A-ma-da, seja ela feia ou bonita, caladona ou palavrosa, tímida ou afoita, pacífica ou guerreira, burra ou inteligente, malcriada ou cordata, expansiva ou recatada, depravada ou quase santa; esteja ela bem vestida ou mal vestida, e, se nua, melhor ainda...
        Artur da Távola deixou-nos um livro que é uma ternura só, a começar pelo seu título: A Mulher é Amar.
        Divulgá-lo e estimular sua leitura é, no meu modesto modo de ver, uma maneira legítima e terna de homenagear a Mulher, se você, meu estimado leitor, escolher o dia 8 de março para festejá-la como manda o calendário.
        
                     ***   ***

        Mas eu comecei dizendo que o rádio é uma de minhas paixões, frisando que não são tantas. 
        Com o tempo, descobri que as mulheres também são responsáveis por essa paixão. Que mulheres? 
        As mulheres que cantam e as musas inspiradoras de belas canções, frutos do trabalho de iluminados e autênticos compositores. 
        Nessas canções estão, por exemplo, a Dora, a Dorinha, a Aurora, a Helena, a Risoleta, a Marina, a Célia, a Nancy, a Rosa, dezenas de Marias, inclusive a Candelária, e a exemplar Amélia, que no dizer do seu criador, Mario Lago, "é que é a mulher de verdade!"
        E as mulheres que cantam? Posso citar, entre outras, a Elizethe Cardoso, Ângela Maria, Dalva de Oliveira, Emilinha, Marlene, Nora Ney, Carmem Miranda, Aracy de Almeida, Ellis Regina, as irmãs Batistas,  e nos dias nossos, a Maria Betânia,  a Joana, a Mariza Monte e a Ana Carolina. 
        Esquecendo, de propósito, as cantoras que se acham "o máximo"  mas que de tão "boas" passam sem deixar saudade.
         Não vou nomeá-las. Não sou indelicado; afinal, elas são Mulheres...
        O rádio tem se encarregado de manter essas vozes femininas nas paradas de sucesso, apesar da manifesta má-vontade de programadores malandros que insistem em deixá-las no fundo do baú. 

                   ***   ***

        Com esta insignificante página homenageando nossas cantoras, de ontem e de hoje, e nossas "musas inspiradores", como as chamava o saudoso Ataulfo, faço-me, bem ou mal, presente no dia internacional da Mulher, com letra maiúscula e por que não?
        Sobre irmã Dulce, Zilda Arns, Tereza de Calcutá, e outras mulheres, inclusive as que vivem no mais santo anonimato, cujo exemplo e trabalho deixaram ou deixam muitos homens no chulé, sobre elas continuarão escrevendo os que, talvez, não vejam maiores méritos nas mulheres que aqui resolvi homenagear. 
        As Mulheres, vejam o que dizem as pesquisas, estão cada vez mais ocupando, aqui e alhures, cargos de liderança. 
        Um sonho há muito alimentado pelo belo escritor chinês Lin Yutang (1895-1976) em sábia crônica que li, no século passado, no seu delicioso
Com Amor e Ironia.
       
E se me permitem, faço meu este galanteio, que achei genial: "Você não é a Virgem Maria, mas é cheia de graça!".

     

Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 08/03/2010
Reeditado em 08/03/2010
Código do texto: T2126623