INFERNO HUMANO

Vinha eu despreocupado, zanzando pela rua: carros em alta velocidade, fumaça apodrecendo o ar, os guardas multando, o ladrão correndo, a sirene ligada, o mendigo na esquina, a laranja no sinal e etc. etc. e tal... quando de repente, meu celular toca e uma daquelas telefonistas de telemarketing com voz exuberante me oferece um apartamento a beira-mar, custando 1 dólar de entrada e um financiamento infinito, justificando ser uma saída da crise. Eu disse que não queria pois estava justamente com minha barraca e minha vara de pescar indo tirar minhas férias na “minha” praia. Ela insistiu e disse: combata a crise, senhor. Você tem essa chance! A mandei se ferrar e parti... dessa vez com o celular desligado!

Mas o que danado é realmente uma crise? Porque na era pré-histórica a crise foi da força x conhecimento, o homem mandava na mulher, mas tinha medo dos animais. Na idade antiga, a crise morava na escravidão. Na idade média, eram mil servos para cada “rei”. Por fim, na idade moderna e contemporânea, do embrião ao cadáver do capitalismo, a crise é da moeda.

A economia e o capitalismo de consumo maquiaram o mundo, e a crise, na verdade, acontece apenas quando os ricos quebram. Haja vista que a crise dos abismos acontece desde que a humanidade é humana.

O trabalhador construindo um prédio precisa trabalhar de sol a sol para ganhar cem mangos, e assim, poder rir um pouco, um riso de bobo, e não de rei! Quando se para pra pensar que o pedreiro que construiu sua casa não tem casa pra morar, a doméstica que serve teu caviar não tem além de pão e leite na sua mesa, o teu jardineiro mora na favela, crise do inferno humano se vangloria...

... infelizmente, a economia precisa da miséria!...

... Basta o grã-fino enxergar no fundo do seu mar o fundo do seu poço sem fundo, ou o seu ouro começar a desbotar e virar enxofre, que é hora do coração parar e o mundo socialite começar a fazer uma ponte safena com a desgraça da pobreza!

Essa é a eterna crise: os dentes da ganância sorriem das lágrimas da cegueira!