O Ladrão de Mangas
Domingo à tarde, sol escaldante; Auri e eu estavámos na feira livre, surfando em meio a massa humana, escolhendo frutas, procurando por uma barraca com mangas bonitas. Ela encontra, e me chama. As mangas são lindas, saliva a boca, faz querer a barriga. Ela escolhe uma, eu peço duas, o feirante esperto nos faz levar três; porém, ele não percebe um freguês diferente, que olhando o feirante negociar com a gente, abre a sacola e joga lá dentro, duas mangas rosas.
Eu vejo tudo, Auri também, o feirante está de costa, perguntando a alguém se ele troca a nota de 20 reais. Olho pro Ladrão de Mangas, ele olha pra mim; os nossos olhos se cruzam e travam um duelo. O esperto e o delator. Ele avisa, se me entregar, te pego na esquina; eu aviso, não vou deixá-lo escapar disso; ele ri! Diz que com ele, esta toda uma falange de assaltantes, numa egregóra tão antiga quanto a Terra; pois sempre houve assaltantes e sempre haverá ladrões de mangas; eu lhe aviso, que também tenho um batalhão ao meu alcance, gente decente que sempre pagou pelo que comia; com moedas, suor, coragem e alegria de colaborar com a justiça do mundo. Ele rí uma vez mais, e quando o feirante, volta e me dá o troco; é tarde demais, o Ladrão de Mangas já havia saido correndo em meio a multidão.
Auri olha pra mim, esperando talvez que eu avise o feirante sobre o que houve; mas do que adianta avisá-lo agora, o Ladrão, à essa altura, já deve estar se preparando para a sua próxima aventura. Pegamos o troco, as mangas e continuamos com a nossa compra. Há dias em que a ilusão que a injustiça triunfa fica no ar...