NOTA ZERO EM PRESTÍGIO!*

Lendo o jornal Gazeta do Oeste, de domingo, na coluna “Impressionando” de Carlos Augusto, surpreendi-me com uma notícia que é, no mínimo, para nos preocupar. Segundo uma pesquisa realizada pelas revistas Veja, Educar e Nova Escola, apenas 2% dos alunos que vão prestar vestibular optam pelo magistério.

Bem, até aí eu entendo como sendo uma opção, digamos, racional e não vocacional – a não procura pelo magistério –, por parte dos jovens. Se formos analisar, do ponto de vista econômico, é claro que a carreira no magistério não tem muitos atrativos: o salário é baixo, as condições de trabalho são, na maioria das vezes, de risco, e ainda tem o problema da falta de estrutura física e apoio humano no exercício da profissão. Isso sem contar que a carga horária é desgastante, onde o docente se vê obrigado a uma maratona diária – às vezes em dois estabelecimentos de ensino –, para cumprir com o seu vínculo empregatício.

Além do mais, optar pela carreira de professor, tendo inúmeras outras ao alcance, inclusive, com incentivos dos órgãos governamentais é, se não tiver inclinação para o exercício da profissão, uma tremenda falta de esperteza. Qualquer que seja a outra profissão – em nível superior, a faixa salarial é acima do piso pago aos que iniciam carreira na docência.

Essa debandada, em busca de outras carreiras, no entanto, acarreta sérios problemas para os que permanecem nos quadros da educação, pois abre uma lacuna muito grande entre as gerações. Segundo o médico psiquiatra, autor de vários livros sobre educação, Içami Tiba, hoje, a cada cinco anos nasce uma nova geração. Isso significa dizer que, em termos de educação, a defasagem é, de no mínimo, de quatro gerações.

E isto é inquietante. A velocidade com que esse mundo globalizado caminha é infinitamente superior aos passos dados pelas instituições de ensino – com relação à capacitação dos seus quadros –, principalmente, com as ferramentas tecnológicas. Se por um lado, o jovem já consegue, em cada esquina, contato com o conhecimento – através das lan houses e nas suas próprias residências – via internet –, por outro lado, o educador não dispõe dessas ferramentas, muitas vezes, nem na instituição, muito menos em sua residência, o que torna essa defasagem ainda maior.

E este é um dado preocupante: o não treinamento do educador para acompanhar a evolução das áreas novas de ensino, especialmente, as ligadas às tecnologias de ponta. Se a instituição n%@ýïð8 promove esta interação, dificilmente o educador terá condições de, ele mesmo, promovê-la. Em parte, as suas condições econômicas que não o possibilitam dispor de uma reserva para se capacitar por conta própria; e, por outro lado, o medo do novo, daquilo que ele não tem domínio ou confiança para enfrentar faz com que ele não se recicle e acompanhe essa evolução que, naturalmente, deveria fazer parte do contexto de cada um. E o resultado é: salas sem nenhum atrativo para trazer a clientela para dentro dela.

Mas, o problema não é só esse. Se fosse só isso, ainda teria solução – pelo menos, a médio prazo. O problema maior é, segundo a Fundação Carlos Chagas, que destes 2% que têm inclinação para o magistério, 30% deles pertencem ao grupo das piores notas no boletim. Ou seja: num universo de 1000 alunos que prestam exame vestibular, apenas 20 concorrem em pedagogia e, dentre estes, 6 têm as piores notas dentre todos. E aí vem mais uma preocupação: nem sempre a vocação está em primeiro lugar – para a escolha do curso –, mas, sim, a única esperança de ingresso em uma faculdade.

E aqui eu fico a me perguntar: o que fazer? Como promover o resgate da escola como uma instituição social que lida com o bem comum e nela se oferece condições de formar cidadãos? Penso que a escola ainda tem condições de suscitar essa interação, entre ela e a sociedade cibernética globalizada, em prol de um modelo onde se contemple uma evolução mais uniforme entre os vários conhecimentos profissionais, reconhecendo o valor de cada um deles, para o desenvolvimento sócio-econômico e cultural de um país.

O que não pode – e não deve ser um princípio – é que a profissão que repassa e/ou constrói conhecimentos, forma cidadãos, transforma uma sociedade e promove o desenvolvimento cultural de uma nação, não seja, ela, reconhecida como sendo um dos pilares do progresso, e esteja tão desprezada pelas autoridades, ao ponto de servir como porta de entrada para quem está inapto à docência, e não tem, como vocação, a inclusão da heterogeneidade de uma sala de aula.



*O título da Crônica foi tirado do artigo escrito pelo colunista Carlos Augusto, no jornal A Gazeta do Oeste, em sua edição de domingo, dia 28/02/2010.

 

Obs. Imagem da internet


 

Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 07/03/2010
Reeditado em 07/12/2011
Código do texto: T2124881
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