O inverno que não quer passar e lembranças que fincaram pé!
Já havia me alegrado tanto com a volta do sol e hoje de manhã, pronto: tudo branquinho. Ruas cobertas de açúcar bem fino ou coisa igual. Não sou muito dada a confeitos. Comê-los sim, confeccioná-los não. Uma pena. Perdi a chance de aprender receitas maravilhosas com a minha mãe. Tem nada não, estou precisando mesmo perder uns quilinhos. Bom, tendo a neve voltado, mudança de planos: tudo o que queria fazer lá fora teve que ser postergado... Aproveitei então para ler, escrever, viajar em fantasias e lembranças.
O pirata Jack Sparrow: “Certamente o pior pirata que já ouvi falar”. “Mas o senhor JÁ ouviu falar!”. Também por este personagem de Johnny Depp, de cuja versatilidade e talento sou admiradora, volta e meia revejo a trilogia Piratas do Caribe. Gosto também de histórias de piratas. Me cheira a infância - e eu não quero jamais deixar de ser criança. E pelos vários papéis de Depp, principalmente no filme sobre Peter Pan (Finding Neverland), imagino que ele também não.
Sabia que Depp é um colecionador de livros? Descobri isto lendo um bem-reputado livro inglês sobre teorias literárias, ou seja: a fonte me pareceu confiável. E pela vida que ele injeta em seus personagens - De Gilbert Grape a Edward Mãos de Tesoura, de Willie Wonka ao Barbeiro Sweeney Todd, Don Juan e agora seu papel em Alice no País das Maravilhas (pelo qual estou ansiosa também pela história de Lewis, que me fascina) -, difícil para mim é crer que ele só os colecione e nada leia.
A diferença entre um grande artista e um artista só famoso talvez se encontre na base cultural, uma que dá trabalho e custa tempo para construir e que passa por diversos caminhos: da formação ao puro e simples gosto pela leitura, pela arte de contar histórias independente de meios usados para tal. Acho ingênuo pensar que só talento seja necessário para formar um grande artista. Sim, talento é essencial, mas não é tudo. Há que ser refinado, desenvolvido, testado e sobretudo liberado. É um caminho que passa pela formação de opiniões próprias e uma visão de mundo peculiar. Isto é fantástico, não? Aqui veiculo unicamente minhas impressões. Não conheço Depp, nunca li dele qualquer biografia e não sou de acompanhar vida de celebridades. Uma ou outra me chama a atenção e penso com carinho sobre ela.
No caso de Depp, há uma razão especial, um papel marcante no meu currículo de escritora, se assim posso dizer. Quando era adolescente, não recordo exato a idade, era exibido no Brasil um seriado americano sob o título, se não me engano, “Anjos da Lei” - um grupo de policiais disfarçados se infiltrava em escolas para investigar crimes ou coisas assim. Tratava temas juvenis, sobretudo drogas. Depp protagonizava um dos anjos desta série, um jovem policial.
Nesta mesma época, ganhei uma máquina de escrever portátil, usada. Não recordo a marca, que também pouco importa aqui. Possuía algumas teclas travadas, mas para uma adolescente que estava ainda pensando em aprender datilografia foi um presentão - Meu primeiro contato com a alta tecnologia!
Não sei porque cargas d’água, tive a idéia de começar a escrever um livro. Re-aproveitava qualquer folha de papel A4 cujo verso estivesse limpo. Afinal, eram exercícios. Lógico que não contei para ninguém do livro. Não gostava quando riam dos meus projetos. Uma vez, na frente de adultos, disse que queria ser doutora – pensava em médico ou advogado, pois nessa época eu não fazia idéia do parentesco entre doutor(a) e doutorado. A enxurrada de risos que se seguiu ensinou-me a guardar grandes planos só para mim, externando-os somente no tempo certo. Não se deve rir dos sonhos de ninguém, muito menos dos de uma criança. Pois bem, mas o que Depp tem com tudo isso?
Minha história era baseada neste seriado, no personagem de Depp em particular. Não faço mais idéia do que escrevi, só lembro de ter ultrapassado 100 páginas. Em algum momento, achei que o que estava escrevendo era besteira e destruí tudo. Escritores têm dessas neuras, não? Recordo essa experiência com curiosidade... Gostaria de saber com o quê preenchi aquelas mais de cem folhas, naquela época, quando nem passava por minha cabeça ser escritora. Acho que as mais de cem páginas foram o suficiente para eu me familiarizar com a máquina de escrever. Daí perdeu a graça e voltei para os cadernos.
Pois é, uma coisa puxa outra e agora que me sinto envelhecer quero registrar tudo, tudo o que conseguir lembrar. O que acho interessante e inofensivo, compartilho. O resto, continua como está, registrado porém guardado em lugar seco e protegido, livre do desdém e conhecimento alheios, ali, quieto, esperando a hora certa de vir à luz dos olhos seus.
E a neve lá fora... Bem, esta continua caindo.
Até a próximo constelação de tempo e inspiração!
Grata pela companhia :-)