EM CIMA DOS MUROS DA ESCOLA (No faz-de-conta, no nem: nem para lá, nem para cá...)
sábado, 6 de março de 2010
Claudeci Ferreira de Andrade
Disse Paulo Freire, educador, pedagogista e filósofo brasileiro: "Que é mesmo a minha neutralidade senão a maneira cômoda, talvez, mas hipócrita, de esconder minha opção ou meu medo de acusar a injustiça? Lavar as mãos em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele." E eu observo que quase tudo na Educação é simulacro! Simula-se prova, simula-se austeridade, simula-se letividade, simula-se legalidade, simula-se até amistosidade! Não sei por que estou incomodado, afinal, a escola é a preparação da sociedade para si mesma, isto é, um movimento reflexivo da cultura em ondas cada vez mais sofisticadas! “Como uma onda no mar” (Lulu Santos).
Por que me recuso a ficar “em cima do muro”? É mais confortável a neutralidade! Muitos creem que não precisamos tomar posição clara ao lado dos fatos, já que se pode viver situações várias sem maiores consequência, no faz-de-conta, no nem: nem para lá, nem para cá. É verdade, esse Maneirismo implica na baixa qualidade quando nos transferimos para a vida real, mas os entendidos do sistema dizem que pode haver comprometimento amistoso com os dois lados, então, é só simularmos também a qualidade! Nota de simulado vira coisa séria. A mornidão é recomendada quando nos é ensinado que devemos tolerar as diferenças.
Não me lembro de nenhum mártir da educação, talvez não seja importante ser “linha dura” e dar a vida em troca de simulações! Ou a coragem altruísta foi negociada?
Em assuntos que dizem respeito ao meu bem-estar, de meus amigos, da escola em que trabalho, não deve haver lugar para desinteligências, aí entra adequadamente a dissimulação vantajosa: santa hipocrisia!
A respeito de tudo, uma pergunta como esta é descabida: Que mal pode haver se eu recuso envolver-me nas simulações da escola? Todo o Mal do inferno, pois como vou sobreviver sem a arte da convivência profissional. Não pode existir em minha consciência peso algum. Não sou pior do que a maioria dos colegas. A menos que eu me ponha de coração no canteiro do meio, é mera pretensão dizer que sou moderno.
A neutralidade evita conflitos. Tudo na vida tem dois lados: direito, esquerdo; positivo, negativo; preto, branco... Contudo, simulação é equilíbrio, descobri que o caminho do meio também é uma posição a ser tomada pelos que simulam ora deste lado ora daquele: a subdivisão do equilíbrio.
Ninguém pode brincar com coisas sérias. Sou assim por que o muro caiu comigo em cima dele, arranhões foram inevitáveis na minha pele e a reconstrução do mesmo será por demais dispendiosa para quem tiver interesse. Será que vale a pena simular boas intensões, mais do que ficar "em cima do muro" tentando agradar todo mundo? E melhor do que ser covarde é ser hipócrita. Disse Coelho Neto: "Aquelas campinas, fertilizadas e santificadas pelo sangue dos heróis, não podiam gerar covardes." (Morto, c. 8, p. 65, ed. 1918.). É melhor ainda é ser irônico.