INSPIRAÇÃO

São 5:40 h da manhã. Na rua os termômetros já marcam 23 graus. Eu saí pedalando para me antecipar e buscar a chuva que há dias a meteorologia promete que vai cair a partir de hoje. Vou de encontro dela para refrescar um pouco. Não tem sido fácil ter uma boa noite de sono diante de tanto calor. Queria ter ficado no computador, posto que minha vontade era de escrever. Mas andando de bicicleta, nem mesmo levando o note book nas costas tem jeito; eu teria que fazer uma coisa ou outra. Ademais, se chove, adeus minha tecnologia ambulante.

Então, dispenso a modernidade e volto para o papel, mais precisamente, meus “papelim”, como gosto de falar de um jeito bem mineiro. Papelim é gíria de quem gosta de cigarro de palha. Hoje em dia ele já está industrializado, vendido até em caixinhas, mas houve um tempo em que na falta de uma palha de milho, o fumo era enrolado em qualquer tirinha de papel limpo. E são essas tirinhas e caneta que me acompanham. Tenho no bolso, no banheiro, na cômoda ao lado da cama, no porta-luvas do carro. Sempre que aparece uma idéia, eles estão ali, à mão. Afinal, eu sempre costumo dizer que qualquer um pode escrever. Vira escritor é quem tem a idéia e anota. Falo dos comuns. Os geniais não precisam desses recursos. O cara faz aquela cara estranha, bota a mão no queixo, coça a cabeça, deita a mão no teclado e saem coisas maravilhosas. Eu vou exercitando um pouco a cada dia. Se fosse genial eu dispensava esses recursos e pitava o papelim.

Não sabem desse causo? Os dois caipiras, viajando num ônibus numa época em que era permitido fumar em qualquer recinto ou ambiente. Vem o fiscal de viagem e lhes pede a passagem para conferência. Pede e fica esperando e o cara calado.

- Senhor, a sua passagem.

- Que”passage” moço?

- O bilhete que o senhor comprou para viajar.

- Ah, aquele pepelim branco?

- Sim!

- Ih, pitei ele!

BH, 01/03/10

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 06/03/2010
Reeditado em 06/03/2010
Código do texto: T2122770
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