NUDEZ COM CAFÉ
O café pode ser uma roupa a ser vestida por dentro. Completar os vãos aonde as fontes secaram, com intenso aroma. A xícara esquecida na mão clama por nossa boca. Sorvendo devagar, suas águas descem por caminhos obscuros, escuros, segredos de nosso corpo do avesso. Vestir nossas vísceras com este caloroso bálsamo abranda a pior das solidões, faz bater mais o coração e beija nossas carências como um ardoroso amante.
Sentada diante da janela não quis vestir nada sobre a sua esquálida figura. As roupas amontoadas a um canto, retiradas do armário e rejeitadas com vigor, uma a uma, nada podiam fazer por ela. Estava só! E solidão não requer vestimentas, ela as abomina como incômodos disfarces, como enganadoras aliadas das aparências que só nos fazem seguir acreditando em falácias. Não, nada de disfarces, nada de amortecedores, precisava beber em grandes goles até queimar a garganta aquela sordidez de se sentir perdida e cega e tão atordoada pelos acontecimentos daqueles dias. Na verdade os não acontecimentos, pois tudo e todos pareciam ter evaporado. Sentir-se um número ímpar, uma peça deslocada da engrenagem, alguém que por mais que falasse nunca sentia estar realmente sendo ouvida, amparada.
A xícara já esfriara em suas mãos, os ruídos da rua pareciam acalmar de repente, mais alto gritava o silêncio do fim da tarde. A garganta doía, a cabeça rodava, o sono não viria tão cedo. O que fazer com todo aquele tempo que no entanto ao amanhecer pareceria nem ter existido? O que fazer com a insanidade de uma vida em vias de extinção que ainda clamava por alguém... ilusões congeladas em outros tempos... os fatos eram tudo que possuía e ela acordara demais pra poder voltar atrás.
Estava nua e bebia café. Estremeceu com um arrepio e percebeu que uma chuva fina desabara sobre a secura do verão. Então, num sobressalto, ouviu o ruido do celular anunciando mensagem. De um pulo clicou e foi salva momentaneamente por alguém que de uma forma insusitada, de vez em quando lhe dedicava palavras carinhosas. Por instantes saboreou uma trégua com as batalhas íntimas e até sorriu. Tantos quilômetros os separavam, refletiu. Mas a distância verdadeira não se media dessa forma, ela o sabia muito bem... Serviu rapidamente outra xícara de café e ficou saboreando com ele a inesperada visita...
O café pode ser uma roupa a ser vestida por dentro. Completar os vãos aonde as fontes secaram, com intenso aroma. A xícara esquecida na mão clama por nossa boca. Sorvendo devagar, suas águas descem por caminhos obscuros, escuros, segredos de nosso corpo do avesso. Vestir nossas vísceras com este caloroso bálsamo abranda a pior das solidões, faz bater mais o coração e beija nossas carências como um ardoroso amante.
Sentada diante da janela não quis vestir nada sobre a sua esquálida figura. As roupas amontoadas a um canto, retiradas do armário e rejeitadas com vigor, uma a uma, nada podiam fazer por ela. Estava só! E solidão não requer vestimentas, ela as abomina como incômodos disfarces, como enganadoras aliadas das aparências que só nos fazem seguir acreditando em falácias. Não, nada de disfarces, nada de amortecedores, precisava beber em grandes goles até queimar a garganta aquela sordidez de se sentir perdida e cega e tão atordoada pelos acontecimentos daqueles dias. Na verdade os não acontecimentos, pois tudo e todos pareciam ter evaporado. Sentir-se um número ímpar, uma peça deslocada da engrenagem, alguém que por mais que falasse nunca sentia estar realmente sendo ouvida, amparada.
A xícara já esfriara em suas mãos, os ruídos da rua pareciam acalmar de repente, mais alto gritava o silêncio do fim da tarde. A garganta doía, a cabeça rodava, o sono não viria tão cedo. O que fazer com todo aquele tempo que no entanto ao amanhecer pareceria nem ter existido? O que fazer com a insanidade de uma vida em vias de extinção que ainda clamava por alguém... ilusões congeladas em outros tempos... os fatos eram tudo que possuía e ela acordara demais pra poder voltar atrás.
Estava nua e bebia café. Estremeceu com um arrepio e percebeu que uma chuva fina desabara sobre a secura do verão. Então, num sobressalto, ouviu o ruido do celular anunciando mensagem. De um pulo clicou e foi salva momentaneamente por alguém que de uma forma insusitada, de vez em quando lhe dedicava palavras carinhosas. Por instantes saboreou uma trégua com as batalhas íntimas e até sorriu. Tantos quilômetros os separavam, refletiu. Mas a distância verdadeira não se media dessa forma, ela o sabia muito bem... Serviu rapidamente outra xícara de café e ficou saboreando com ele a inesperada visita...