TEREZINHA!

Fechei os olhos e, por um instante, transportei-me ao Colégio Imaculada Conceição, em Capela, lá pelos idos de 1965, e vi aquela menina alegre, espirituosa, com mais ou menos sete anos de idade, pele morena clara, olhos grandes, cabelos pretos, lisos e compridos, com uma franjinha na testa. Suas sobrancelhas negras adornavam-lhe o rosto iluminado por um largo sorriso que desenhava duas interessantes covinhas em sua face. Parecia uma indiazinha travessa e inocente. Naquele meu breve momento de enlevo, vi TEREZINHA correndo pelos longos corredores do colégio a demonstrar uma vitalidade contagiante. Vitalidade daquelas que conseguem arrastar até os mais apáticos, até os mais indolentes.

Lembro-me, ela era a filha mais nova de seu Costinha, respeitável senhor da cidade de Capela.

Conclui o meu curso ginasial naquele ano e passei a estudar na capital. Perdi o contato com quase todas as 76 colegas do internato e com as inúmeras colegas externas. Tão pouco teria eu qualquer contato com uma coleguinha que, àquela época, estava ainda no início do curso primário.

Quase três décadas se passaram, quando um dia meu esposo me falou que, dentre suas colegas de seu novo trabalho, existia uma da cidade de Capela. Era uma senhora morena clara, de cabelos bem pretos, alegre, espirituosa, muito dedicada ao trabalho, e que se chamava TEREZINHA.

Só podia ser ela, a menina, aquela indiazinha, minha pequena colega do Ginásio Imaculada Conceição.

Terezinha também trazia viva na memória a minha imagem do tempo de estudante. A imagem daquela moça que era a presidente do Grêmio Estudantil. Aquela estudante que era, para as menores, uma referência.

A alegria do reencontro foi imensa. Agora não mais a criança e a moça do curso ginasial, mas duas senhoras casadas, com filhos e outras responsabilidades.

Senti que TEREZINHA ainda era aquela mesma pessoa cujas características, já em tenra idade, conseguia demonstrar. Vi que continuava a cultivar os princípios, a educação recebida de sua família e, também aqueles que adquiriu ou que foram reforçados pela educação recebida naquela respeitada casa de ensino.

Voltamos a conviver, agora mais de perto, pelo trabalho que ela desenvolvia na equipe de meu marido. Muitas reuniões, passeios e confraternizações. Em todas, a mão habilidosa, a palavra construtiva, o toque inteligente e criativo de TEREZINHA, que sempre participou da organização de todos os eventos de seu trabalho.

Mulher forte, ainda quando muito triste pela perda prematura de seu marido e pela doença de que antes já fora acometida, ela mantinha inabalável sua fé e tinha sempre uma palavra de conforto, de carinho para com as pessoas que estavam a sua volta. Nunca a ouvi reclamar. Antes sempre a dizer que lutaria para deixar seus filhos já maiores.

Assim, num dia muito triste, após quase dez anos de luta contra a enfermidade, minha amiga se despediu de seus três bem educados filhos adolescentes e de todos nós seus amigos.

Essa cena me comove muito, prefiro volver meu pensamento para os meus tempos de colégio em Capela, ano de 1965, e voltar a ver aquela menina alegre, olhos grandes, cabelos pretos, lisos e compridos, com uma franjinha na testa, aquela pequena indiazinha, a pequena TEREZINHA!