O ESCRITOR E SUA MISSÃO

Sinto-me igual a certas mulheres que, mal pariram, já programam nova gravidez.

Meu primeiro livro recém publicado deu-me uma irresistível necessidade de providenciar outro. A mim não importa qualquer retorno pecuniário; desejaria, apenas, saber que as minhas idéias e lembranças foram compartilhadas com alguém, mesmo que jamais esse alguém haja vivido junto a mim ou, sequer, me conheça pessoalmente.

Procuro ter o cuidado de reviver pessoas e épocas de maneira a não chocar o leitor, mas de forma a que ele retroceda, também, às suas fases remotas e se reencontre novamente jovem ou criança. Penso que um escritor deva produzir meios quase mágicos para incitar a criatividade do leitor.

Certa vez, quando eu mandava colaborações para um jornal semanal de turismo, escrevi um artigo sobre São Joaquim/SC, suas belezas e deficiências , quando recebi um estimulante elogio do editor. Sinceramente preferiria ter recebido, como prêmio, um fim de semana para conhecer a cidade que eu “tão bem descrevera”... e que até hoje não conheço.

Contrastando com essa opinião, um outro artigo meu foi rejeitado apenas porque “rebusquei” o texto aplicando algumas palavras inusitadas. Por exemplo: “ procelas” – lógico que eu não sugeri que o meu editor procurasse um dicionário, mas é o que eu faço ao deparar-me com uma palavra que não conheça.

Aliás, este é um hábito que trago desde o curso primário – tanto as consultas ao dicionário, quanto à enciclopédia. Antes eu procurava “O Tesouro da Juventude”, uma antiga e ilustrada enciclopédia; mais tarde, a Barsa e hoje, o Google.

Impossível conhecermos a infinitude das coisas que nos cercam, entre elas, as palavras. Fico muito preocupada com a adesão de uma nova gramática desvirtuada para termos adaptados, tanto lingüisticamente quanto modernistas – ou seja, esta “mistureba” de sinais gráficos um tanto cabalísticos e as abreviações que nossos jovens internautas desenvolvem assustadoramente - “naum é?”.

Zamenhof, o criador do Esperanto, em 1887, deve estar dando voltas e reviravoltas, aonde quer que esteja, uma vez que seu ideal de internacionalizar o entendimento oral e escrito entre as nações, decorridos quase duzentos anos conseguiu poucos adeptos. Em contrapartida, o recente “internetês”, escrito apenas, em menos de dez anos, realiza o milagre da globalização...