A LAVADEIRA

A lavadeira, figura guerreira, que conseguia com coragem enfrentar os desafios da vida. Buscava na lavagem de roupa completar o orçamento familiar. Hoje, com o avanço da tecnologia, esta mulher batalhadora encontra dificuldades para exercer o seu ofício. É substituída pela máquina de lavar que, apenas ao girar um botão, resolve tudo de maneira calculada e simples.

O progresso se faz necessário, bem sabemos, por está inserido na evolução humana. O que me comove é ver a desigualdade social de maneira alarmante e a má distribuição de renda do nosso país.

Volto mais uma vez ao meu rincão, o sitio Jenipapeiro. E como poderia sair de lá, se foi ali o palco da minha infância e onde estão fincadas as raízes dos meus ancestrais? Recordo com saudade e emoção os costumes e os valores de coragem e de caráter da minha gente, que são para mim como uma alavanca que me impulsiona a seguir adiante.

Família numerosa. O pai e os filhos, já adolescentes, se ocupavam nas tarefas do campo e no trato com os animais. A mãe e as filhas cuidavam das tarefas do lar. E uma delas era a lavagem de roupas.

Mesmo criança participava como coadjuvante, juntamente com minha irmã Iracy. Uma das irmãs mais velhas era a personagem principal da cena. Após o desjejum matinal, saia com a trouxa de roupas na cabeça, em direção ao açude. Levávamos os utensílios necessários como a bacia, a lata e o sabão. Ah, não posso esquecer-me da pedrinha de anil colocado num paninho e amarrado, para dar uma cor mais bonita às roupas brancas.

Lá chegando já existia um grande buraco bem afastado da beira d’água, onde era colocada em sua borda, uma tábua para por a roupa em cima. A nossa participação era carregar a água em latas pequenas para as bacias, pois a água suja não podia escorrer para dentro do açude, que servia para o gado beber, irrigar as plantações e o banho das pessoas. A água para o uso da casa era trazida de outro reservatório. Outra atividade nossa era esvaziar o buraco, enquanto minha irmã lavava a roupa. O sol quente logo secava, mas a nossa ignorância não permitia compreender o efeito causado pela absorção da água pelo solo.

Gostava muito na época do inverno, pois íamos lavar as roupas nuns lajedos, ou lajeiros, como são chamados lá no sertão e que existem nas propriedades. Nas cavidades maiores juntavam bastante água. O sabão era confeccionado em casa. Não se conhecia o sabão em pó e nem a água sanitária, mas era incrível como a roupa ficava limpinha e cheirosa, depois de quarar ao sol em cima das pedras. Ao voltarmos para casa eram estendidas nas cercas de pau-a-pique ou mesmo de arame farpado.

Que tempo de dificuldades, mas divertido para mim, pois fazía tudo àquilo com bastante alegria. Gostava de fazer as atividades cantarolando. Era uma forma do tempo passar mais rápido, sem me dar conta. Não havia reclamações e aproveitava cada momento, porque havia a semente do amor plantada na alma.

Neneca Barbosa

João Pessoa, 05/09/2007