SOMOS NOSSOS MAIORES INIMIGOS!
Se pararmos para analisar, veremos que na verdade ninguém nos causa mal. E não estou falando aqui da violência que enfrentamos hoje, já que esse é um elemento incontrolável da nossa sociedade. Estou falando de sentimentos, de relacionamentos.
Somos um clã de bichos animalescos! Aprendemos sempre a valorizar o lado ruim das coisas. E nessa análise, nós mesmos somos as vítimas.
Talvez o erro comece nos nossos sonhos! Não sonhamos com algo, sonhamos com um conjunto idealizado.
Quando estamos à procura de um emprego, sonhamos que ele seja perto de nossa residência, que tenha um ótimo salário. Claro que isso é salutar e nos impulsiona pra frente. O problema é que nesse sonhar, vamos além. E idealizamos esse emprego em uma grande empresa, com uma sala só nossa, com benefícios acima da lei, um chefe compreensivo que encubra nossas pequenas falhas.
E, ao conseguir esse tão esperado (e necessário) emprego, nos tornamos infelizes, esquecendo do objetivo principal: o estar empregado.
Porque isso? Pelo simples fato de que as condições desse trabalho, não são aquelas almejadas, mesmo que a diferença seja ínfima.
O mesmo acontece em nossa vida pessoal. O sonho de todos é ser feliz. E essa felicidade geralmente passa pelo caminho de um amor, de um companheiro.
E idealizamos um par! No começo queremos alguém que nos tire dessa solidão, que compartilhe momentos. E num rápido instante estamos fazendo viagens, passeios, ganhando presentes. E pensamos: que bom seria se ele ou ela fossem assim ou assado. E lá no nosso inconsciente já estamos moldando a forma desse príncipe (princesa) encantado (a)!
Um novo relacionamento começa, estamos tão felizes! O mundo parece mais colorido, o dia passa rápido.
Até que aquele parceiro idealizado no nosso inconsciente começa a diferenciar do real. E a acabar minando a relação.
Nesse momento, mais uma vez começamos a enxergar os erros, as diferenças daquele com quem sonhamos. A angústia toma conta de nós e não conseguimos mais ir adiante.
Na verdade não é o outro que errou, ou cometeu algum deslize. A nossa expectativa, alimentada por nossos sonhos é que idealizou uma pessoa inexistente. E somos idiotas demais pra admitir isso!
Se um relacionamento não dá certo, se ele foi rompido pelo parceiro, caímos em depressão! A culpa é nossa... Somos feias, gordas, magras, altas, baixas. Temos celulite, temos cicatriz, temos cabelos crespos, enfim começamos a achar “defeitos” que não são realmente defeitos e sim marcas próprias que nos diferenciam dos demais.
Esquecemos a velha máxima: “A gente ama apesar de e não por causa de.”.
Onde está escrito, determinado ou provado cientificamente que uma pessoa que não esteja nos padrões da moda do momento não possa amar, ser amada, ser feliz? Padrões esses que flutuam de acordo com a época e os interesses do momento.
Somos biologicamente feito para ser par, para garantir a perpetualidade da espécie. Mas nosso ego, nossa vaidade acima dos limites, nos torna seres enclausurados nos nossos medos, em nossas falhas, em nossos traumas modernos.
Buscamos a alma gêmea, esperando que essa pessoa caiba direitinho nos planos traçados previamente por nosso inconsciente, quando a busca seria pela pessoa que possa entender as nossas deficiências, aceitá-las e nos ajudar a romper essa barreira, nos tornando um ser mais humanizado.
Aquela pessoa que caminha junta, de mãos dadas, que nos ampara, nos mostra o caminho, nos dá liberdade pra voar, mas que alça o mesmo vôo junto!
Que não nos priva do crescimento interior, que ri dos próprios erros e mazelas da vida.
Infelizmente não foi essa lição que aprendemos. Sempre nos fizeram animais competitivos, prontos pra batalha da vida, prontos à difamação, a apontar os dedos mostrando os erros de todos, a diminuir àqueles que possivelmente iriam atrapalhar nossos planos e sonhos.
Só que ao fazer isso, estamos também traçando o nosso perfil... Estamos sendo vitimas da mesma arma, mas com um inimigo muito mais difícil de enfrentarmos: o nosso próprio eu!
É quando a auto destruição se instala, se apossa do nosso frágil equilíbrio e nos leva ao fundo do poço. Somos nosso próprio inimigo!
Ninguém nos faz mal, nós mesmos nos encarregamos disso, quando apostamos em situações que sabemos que não são as ideais. Quando apostamos nossas fichas em relacionamentos fadados ao fim, antes mesmo de começarem, pelo simples fato da incompatibilidade existente. Quando batemos o pé diante de uma situação que pela lógica não mudará, mas queremos mostrar o quanto podemos, para mudá-la... E nem sempre conseguimos, ou melhor, raramente se consegue mudar algo que não pediu para ser mudado!
Enquanto não aprendermos a ser nosso maior amigo, estaremos de mãos dadas com a infelicidade, o stress, a depressão, pois somos sim nossos maiores inimigos!
Santo André, 08.08.06 – 15h50min