Margarida
A menina desde nova resolvia o amor na margarida. Pegava a flor e lá ia ela no bem-me-quer, mal-me-quer. Se fosse bem-me-quer dava uma chance ao rapaz pretendido. Ficava com ele por um ou dois meses. Às vezes ficava mais, mas nunca chegou a se apaixonar de verdade. A verdade é que se divertia e tinha beleza para isso. Se fosse mal-me-quer aí não tinha jeito. O rapaz podia ser bonito, ter posses, mas o mal-me-quer é que decedia.
E foi assim a adolescência e quando chegou na vida adulta. Seu nome era Maria e as amigas a apelidaram de Maria Margarida. E foi assim a vida toda, brincando com os seus pretendentes. Tinha vontade as vezes de parar com isso, e ficar com um só moço de vez mas acabava sempre enjoando, e quando enjoava vinha a flor pra dizer mal-me-quer.
Os pais achavam que ela tinha de casar, construir família e coisas assim. Ela não. Queria ser livre, assim como sempre fora e para enrolar os pais dizia estar esperando o homem certo. E no fundo ela realmente estava mas isso era segredo pois acreditava que seu principe viria, e a margarida ia enfim dizer o último bem-me-quer.
Mas com o passar do tempo vieram uns, se foram outros e ela já não acreditava naquilo que a gente chama de amor. Mas um dia ele apareceu. E foi um só olhar que bastou pra que ela soubesse. E ele soube também. Se conheceram, conversaram, se falaram. Trocaram olhares de longe e sorrisos quietos. Seria finalmente o amor?
Quando finalmente conversaram, veio então a certeza. Mas que certeza seria essa? Ela se encantou. Ele nem era dos mais bonitos, tampouco dos mais endinheirados. Era músico e sua vida era música. E assim, compôs uma canção para Maria, a moça dos olhos que encantou os olhos dele.
Lá foi ela atrás de um canteiro procurar a margarida. Tinha de ser bem-me-quer. Ela sabia que era e assim começou a despetalar a flor. Sorrindo e cantando "mal-me-quer", "bem-me-quer". Pois bem assim foi a primeira flor. E a segunda. E a terceira e era sempre "mal-me-quer". E assim foi quase o canteiro todo. Como foi assim sua vida toda, fez a única coisa que restava e começou a chorar. E chorou, assim como uma criança chora ao ralar o joelho. E depois de muito chorar, se levantou e disse uma única frase:
- Agora eu gosto de rosas.
- Agora eu gosto de rosas.