O BORDADO


 
 
              Sinto-me bem, melhor, mais aberta ao bom e ao alegre. 
              Quinta é dia de feira! Festa!



              Aqueles dizeres do Gabriel ao telefone à noite, já tarde, foi um fator que me derrubou no dia seguinte.
              Palavras que rebaixaram a alma e imobilizaram as asas da esperança.


              Passei dois dias a bordar
.


              Lembro aquela figura mitológica que tecia um pano e o desfazia à noite, e recomeçava a tecer, esperando o seu      amado de volta, acho que Ulisses, que demorou mais de  vinte anos a voltar.
 
              Bordei meadas de qualquer cor, a primeira que pegava sem escolha, sem harmonizar cores, só a ocupação da linha e da agulha e o preenchimento do pano.
 
       
             Bordar tem dois opostos:      


     
             ora é o vazio preenchido para não dar lugar à tristeza, 


             ora é o pano novo e criatividade de formas e cores de harmonia e alegrias.