O VÍCIO DO COMPUTADOR.

Vício é vocábulo que inferioriza, define as personalidades psicopatas que se deixam subjugar, não têm vontade. São levadas pela fraqueza de caráter, submissas à deformação que subverte alguma coisa física ou funcionalmente, comprometendo o estado interior.

Viciar é “tornar-se impuro, estragado, deteriorado”, ensina o melhor dicionário etimológico de nossa língua, Houaiss, apontando “vício, como imperfeição grave de uma pessoa.

Estamos no terreno dos hábitos e Shakespeare, do alto de sua visão imaginosa e perfeita da natureza humana, embora dramatizada, via no hábito “uma segunda natureza”. Estava pleno de razão. Existem os bons e maus hábitos, péssimos e doentios hábitos. O vício, por correto e irrespondível, enquadra-se na última classificação.

Quando se é conduzido ao invés de conduzirmos nossa vontade, alguma coisa está errada. Pessoas nascem com retardamentos que inibem a condição de colocarem a vontade sob seu arbítrio, ou seja, o que vem de fora é que faz a pauta da condução. Não mais existe arbítrio, vou fazer o que quero, mas vício, e ele, o vício, comanda minha vontade.

Embora não possa parecer, nos dias de hoje, ao que vejo e leio, o computador está restringindo a vontade. E noto que matérias sobre computador têm mais de 100 acessos no mesmo dia que publico a crônica. Há uma preocupação latente.

Quando nos entregamos ao lazer, sendo o computador lazer, há um parâmetro, da mesma forma que vamos ao cinema, lemos um livro ou qualquer outra forma de distração. Parece que não é assim que ocorre com o computador. Entregam-se as pessoas ao hábito que se transforma em vício.

Por exemplo, “Recanto das Letras” e outros desse tipo, são espaços de distração que podem inclusive servir na troca de interlocução, mas são mera e pura distração, nunca trabalho que é hábito diário, necessário e saudável, e adite-se como relevante, OBRIGATÓRIO.

Só quem nunca trabalhou pode achar que internet em espaços de lançamento de textos é trabalho.

E etimologicamente, para quem nunca trabalhou, trabalho é ou foi tortura, não lazer, e é tortura também como raiz existencial do vocábulo.

Pela opção feita decretou o Senhor Deus : “Comerás o pão com o suor do teu rosto até que voltes à terra de que fostes tomado”.

E para comer trabalhar se impõe, sob as penas da pena bíblica!

Foi uma severidade punitiva para muitíssimos até nossos dias e em posição contrafeita a aparente delícia do paraíso que o homem recusou fazendo opção pelo mal. A palavra implica em contradições já que se trabalha com alegria, com satisfação em determinadas atividades ou contrariado pela obrigação que fatiga e se repele por não ser a escolhida, mas a necessária. Só quem nunca trabalhou não conhece as diferenças.

Há uma justificativa de raiz etimológica para os contrariados em sua atividade.

O que significa trabalho?

Etimologicamente a palavra trabalho significa uma “tortura”, “tripalium”.

“Tripalium” era um tripé onde eram colocados animais ou homens para serem torturados.

Mesmo se não adotarmos ao pé da letra a etimologia vê-se que em algumas conceituações reais o vocábulo induz sofrimento, como por exemplo “trabalhos de parto; e essa é a destinação de Deus no Gênesis para a mulher, “Multiplicarei os teus trabalhos e especialmente os de teus partos”.

O que somos sem utilidade de vida, sem trabalho? O quê devemos ao trabalho senão a dignidade da vida e à justa inserção social? O que seriamos sem ele?

Mas desses conceitos a ser um vício é o mergulho na desfiguração do lazer, mecânica psicopata. Não transformemos o computador em vício ou em trabalho que não é, muito menos em tortura , mas em retorno de alegria.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 04/03/2010
Reeditado em 05/03/2010
Código do texto: T2119357
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