O Sonho Dos Justos
Então um dia ele chegou em casa, daquele jeito que todos chegam após um dia duro de trabalho. Fadado de toda mesmice e incrédulo a qualquer tipo de esperança.Olhou em volta o acumulo de bens materiais que havia conseguido com o tempo e pensou :
“Que Merda!!!!”
Foi então que a feliz idéia persegui – lhe a mente até não suportar mais a depreciativa batalha entre o certo e o errado fustigando seus pensamentos.Estava decidido.
“Amanhã não irei ao trabalho.”
Dormiu então o sono dos justos. Não menos almejado em quaisquer dias precedentes, porém ofuscados por barulhos infernais no trânsito, brigas e discuções contiguas. Tiros, bombas, clarões e berros. Era demais, mas o miserável salário adquirido na repartição não o dava chance de ter opções. Tinha que contentar-se em viver no Balk.
Já se tornara rotina não mais adormecer e sim fechar os olhos diante às lástimas.- Por quê será que sempre fechamos os olhos quando sabemos que algo ruim vai acontecer?- Não sabia, mas ainda fechava-os e esperava que a noite fosse longa. Podia assim ao menos permanecer um pouco mais distante de suas fatigadas tarefas ou coisa que o valha.
Sonhou o sonho dos inocentes.Passeava sobre um campo. Um campo de flores repleto de crianças. As crianças corriam por toda a parte sorrindo, pulando e brincando. Só que esse campo tinha um final. Acabava em um abismo profundo e seu trabalho agora não eram mais as infindáveis pilhas de papel e sim salvar as crianças da queda.Mas viu que eram muitas as vidas e serem vigiadas. Felizmente não estava sozinho.Já há muito estava lá um jovem, bem mais moço que ele, um tanto magricela e bem alto para a idade que aparentava ter.Usava um chapéu vermelho, desses que agente usa para caçar , com a peculiaridade de sempre deixar a aba virada para trás. O rapaz, apesar do silêncio parecia feliz em vê-lo. Tinham agora um ao outro.
Não mais que de repente acordou com o barulho do jornal estatelando em sua porta enferrujada.Levantou-se meio sonolento abriu a porta e apanhou a gazeta diária,abriu na página regional e leu as manchetes:
“Um assassinato, dois arrombamentos à mercados e dois acidentes de trânsito deixaram a vizinhança do Balk à beira de um colapso nessa última madrugada.”
Acendou um cigarro e enquanto preparava o café exclamou indiferente:
"O que será que tem na TV?!"