Um Homem de cueca na minha Rua...

Afastei a cortina, abri a janela e uma brisa gostosa me enlaçou e espirrei várias vezes. Isto acontece sempre quando respiro o ar da manhã - menos poluído. Aquela manhã foi diferente, não nos espirros, mas na paisagem. Entre um espirro e outro tive a impressão de ver o corpo de homem desnudo. Pensei...Um homem nu? Aqui !... Impossível. Devo estar tonta de tanto espirrar. Olhei detidamente e não é que lá estava um homem de cueca? Melhor vendo... De cuequinha preta com a cintura listradinha preta e branca, bem bonitos os dois por sinal. Ele se protegia atrás da porta do carro, dos olhares do prédio em frente, mas ficava sem nenhuma proteção para a janela do meu quarto... Me deu vontade de rir...Tanto cuidado e eu estava vendo tudo, tudinho...Ahahah...Costas perfeitas como se desenhadas a mão tivessem sido, braços fortes, pernas grossas onde se pressentia músculos. Um corpo lindo e viril não de um Adônis, mas de um homem maduro que sabia se cuidar.

Aos poucos ele foi escondendo tudo aquilo que ganhou e cuidou bem. Vestiu as calças - feias - colocou as meias, os sapatos - comuns, até meio rústicos - e aí vestiu a camisa azul de manga curta...Não precisou colocar o quepe da Polícia Militar para que eu adivinhasse que se tratava de um pobre homem que não podia sair de casa vestido com sua roupa de trabalho e tinha que se expor numa Rua sem saída, como a minha, se escondendo e se desnudando para o mundo...

Senti muita raiva das pessoas que têm poder mas só legislam em causa própria.

Fiquei brava comigo por, mesmo em pensamento, brincar com um trabalhador que ganhava a vida expondo a sua para me proteger. Saí da janela para não causar mais constrangimento.

O homem de cueca na minha Rua é um policial, que tem que trocar seu uniforme na Rua para não ser morto sem ter oportunidade de se defender...

Triste...Muito triste.

Maria Emilia Xavier

"Publicado no "De olhos fechados"

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