Sobre hinos e ortografia
O Governador José Maranhão desfilou no bloco “Muriçocas do Miramar” com uma camisa onde estava escrito: “Deixe a paz levar-vos”. Dois erros de português numa frase tão curta! Obedecer à ortografia, regência e concordância oficiais da Língua Portuguesa é o mínimo que se pede de representantes de governos. Mesmo que sejam pessoas iletradas como o Presidente Lula. Porque a língua formal é o que se ensina nas escolas, e o exemplo deve ser dado. Para isso existem os assessores nas prefeituras, palácios e demais repartições públicas.
Luiz Couto, deputado federal da Paraíba, que é professor da UFPB, mesmo com alta qualificação não deixa de ter um revisor para seus discursos. Outras autoridades, sem muito conhecimento do vernáculo, cometem assassinatos em massa da língua portuguesa em ridículos relatórios e outros assentamentos oficiais. Velho delegado de polícia, fraco em redação, escreveu o seguinte relatório: “Senhor Juiz, deu entrada no hospital o cidadão tal, vítima de várias gargalhadas no peito e nas costas, causadas por gargalhos de garrafa”. Por acaso não seria gargalo? Esse mesmo delegado lascou outro relatório, onde informava que um sujeito foi preso por xingar o policial com palavras de “baixo escalão”, aparentando ser um “débito mental”.
Outro dia fui à sede da Receita Federal em Itabaiana, onde existe um mapa do Município e a letra do hino da municipalidade. Eis a pérola:
O patamar do Paraíba
Hino à Itabaiana
Em vigorosos brados retumbantes
Semelhantes clarins a soar
Eu proclamo ardente o teu raiar
A esta plêiade de jovens vibrantes
Do Paraíba és o patamar
Para os filhos, tu és o céu
Na colméia da vida o mel
Nas densas trevas, o luar.
ESTRIBILHO:
Eu te amo Itabaiana
Com ardor no coração
Elevar o teu nome sempre
É meu lema e devoção.
Tuas ruas endeusaram Zé da Luz
O sangue do Silveira floresceu
A bravara dos filhos teus
Pondo-te na glória que reluz
Tua matriz, portal de salvação
Teus morros de beleza mil
Encantou teu povo gentil
Ó meu lindo canto de mancidão.
A publicação é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação, na gestão do ex-prefeito Antonio Carlos Rodrigues de Melo Júnior. “Itabaiana na luta por uma educação de qualidade”, informava a Secretaria no mesmo mapa.
Com todo respeito ao autor do hino, acho que nosso poema oficial é patético. Sem querer ofender, mas rimar mel com céu é um pouco demais! “Vigorosos brados retumbantes” é de uma pobreza triste. Letra espalhafatosa e sem muito sentido é da natureza dos hinos oficiais. “As margens plácidas dos raios fúlgidos” e outras pérolas são imitadas pelos autores dos hinos das mais de cinco mil províncias brasileiras. Como símbolo máximo da municipalidade, acho, porém, que pelo menos deveriam atender à correção gramatical. Num país que carece de educação, não se pode aceitar que se gaste dinheiro público na confecção de materiais carregados de erros de português, para serem exibidos nas escolas.
Mais uma vez quero dizer que não vai aqui nenhum desrespeito aos autores do hino, apenas a preocupação com o vernáculo. Devemos estimular o espírito cívico dos jovens, entretanto com correção gramatical. E tenho o direito de achar o nosso hino de extremo mau gosto, poeticamente pobre, com citação de nomes próprios, o que é inadmissível numa composição dessa natureza.